Memorial Frei Galvão




Mosteiro guarda objetos do primeiro santo do Brasil

Carol Knoploch 


O Mosteiro da Luz, em São Paulo, homenageou Frei Galvão (1739-1822), o primeiro santo brasileiro, no mês de sua canonização. Desde maio, o prédio, onde também funciona o Museu de Arte Sacra, abriga o Memorial Frei Galvão. Montado em um corredor de cerca de 30 metros na área de clausura das irmãs concepcionistas (as freiras que vivem no mosteiro e não podem sair de lá), ele é separado por uma porta estreita de madeira da área onde os fiéis fazem fila para receber as famosas “pílulas milagrosas” de Frei Galvão. Como as irmãs não têm contato com o público, elas passam os pacotinhos com as pílulas por meio de uma portinhola giratória. Outra porta, semelhante a essa, foi restaurada no memorial. Antigamente, as freiras recebiam por ela bebês recém-nascidos, deixados por suas mães, que não podiam criá-los. Quando uma criança chegava, o sino no teto do corredor, que está lá até hoje, era tocado para anunciá-la.

O memorial tem cerca de 100 peças, vindas da clausura e do próprio acervo do Museu de Arte Sacra. Entre os destaques estão objetos pessoais, relíquias e imagens doadas ou feitas pelas irmãs concepcionistas – tudo exposto em vitrines embutidas em paredes de gesso, feitas para preservar a estrutura original do prédio, patrimônio histórico nacional. O mosteiro, considerado o mais importante monumento arquitetônico colonial do século 18, foi projetado por Frei Galvão e fundado em 1774. Ele teria varado madrugadas nas obras, o que fez os operários crerem que a construção evoluía sozinha por obra divina.

1. Livro favorito

Este missal – espécie de livro usado para celebrar a missa – pertenceu ao próprio Frei Galvão. De acordo com as irmãs concepcionistas, trata-se do objeto pessoal preferido do santo, juntamente com uma imagem de Sant’Ana e sua filha, Maria, mãe de Jesus.

2. Faqueiro de frade

Estes objetos estavam guardados na clausura, permanecendo inéditos para o público até a inauguração do memorial. Além do martelo, das colheres – sendo uma de prata – e da caneca de porcelana, há ainda cerca de 200 peças guardadas pelas freiras.

3. Santo pedreiro

Três objetos de Frei Galvão foram levados, em 11 de maio, à missa de canonização do frade, realizada pelo papa Bento XVI no Campo de Marte, em São Paulo: o cálice, o cordão do hábito e a pá. O primeiro e o segundo eram usados nas missas. Já o terceiro foi útil nas obras do Mosteiro da Luz.

4. Lembrança do tio

A sobrinha do frade, madre Isabel da Visitação, fez esta imagem, no século 18, com papel e cola. Foi a primeira representação de Frei Galvão de que se tem conhecimento. Hoje, imagens do primeiro santo brasileiro são comercializadas aos montes, em vários tamanhos e materiais.

5. Enfeite medieval

De origem provavelmente alemã, este retábulo gótico em exaltação a Nossa Senhora era usado para enfeitar altares. O padre José Fernandes, responsável pelo memorial, explica que, na parte de baixo, há a representação do Jesus morto. Cenas da Paixão de Cristo estão retratadas nos lados e o coração de Maria, ao centro, vem acompanhado de anjos.

6. Decoração sem luxo

Bem rústica, esta cadeira fazia parte do simplório mobiliário do quarto de Frei Galvão. Completavam a decoração a mesinha e uma cama baixa, que na verdade era um levantadinho de taipa (madeira com terra batida). Frei Galvão passou seus últimos anos vivendo no quarto, que fica na clausura.

7. Cantinho sagrado

Este desenho na parede e a urna dourada estão no quarto do santo. O desenho é uma planta do mosteiro feita a faca pelo frade, mostrando duas torres em vez de uma. Na urna, está guardado o crânio de Frei Galvão. O quarto permanece inédito ao público, mas as freiras estudam abri-lo para visitação dos turistas.

8. Boneca mascarada

Nossa Senhora das Dores é representada nas imagens de roca, figuras de madeira, leves e articuladas e usadas em procissões. As freiras faziam diferentes roupinhas para as bonecas, trocadas de acordo com a festa. Uma espécie de máscara, que cobria o rosto original, foi descoberta em uma das imagens após o trabalho de restauração.

9. Leis da casa

Em 1774, Frei Galvão escreveu em português arcaico este estatuto, que explica as regras e obrigações que deveriam ser seguidas pelas irmãs concepcionistas. O livro tem também uma adaptação, organizada pelas freiras, para o idioma moderno. Entre as regras do mosteiro está a abdicação do luxo.

10. Vida simples

Frei Galvão fazia suas refeições e escrevia nesta mesinha de madeira. Na mesma instalação, há um silício (instrumento de penitência), livros de oração e terços, além da estante para o missal, feita de capitonê, um tipo de acolchoado que forma desenhos geométricos.




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