Imoral para quem?


Negras vendiam o corpo para obter benesses, escandalizando os estrangeiros, mas nas culturas africanas o sexo tinha outros significados


Sheila de Castro Faria


“Cada vez que eu falar da negra, é sempre a negra mina [oriunda da África ocidental]. Por pouco que se possua do sentimento de verdade, o homem que habita a zona equatorial não pode recusar a sua admiração por essas soberbas criaturas, cujo porte está cheio dessa majestade radiosa que o elogio atribui às rainhas, e a poesia às deusas.”

Embora não tenha sido o único a destacar a beleza das mulheres negras do Brasil, o francês Charles Expilly foi um dos poucos estrangeiros a declarar tão explicitamente o seu deslumbramento pela “majestade radiosa” de sua figura e a compará-las a rainhas e a deusas. O trecho foi publicado em meados do século XIX, no livro Mulheres e costumes do Brasil. 

Mas, mesmo fascinado pelas formas, o francês lhes criticava os costumes. Em suas palavras, eram criaturas de “mal viver”, pois adoravam joias e vendiam o corpo para consegui-las. Causava estranheza a esses observadores ver metais e pedras preciosas em corpos negros, numa sociedade em que a condição escrava era a pior de todas. Para eles, somente a prostituição poderia justificar tal conquista. E essa visão era antiga. 

No início do século XVIII, o jesuíta Antonil recriminava a suposta forma de como muitas escravas conseguiram sua liberdade: a venda do corpo, associada à indumentária e aos adereços que portavam. 

A maior parte do ouro, que se tira das minas, passa em pó e em moedas para os reinos estranhos e a menor é a que fica em Portugal e nas cidades do Brasil, salvo o que se gasta em cordões, arcadas, e outros brincos, dos quais se vêm hoje carregadas as mulatas de mal viver e as negras, muito mais que as senhoras”.




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