Teve uma carreira ascendente, chegando a ser eleito, junto com Goya, em 1799, pintor da Câmara de Carlos IV. O quadro revela a ostentação do gosto francês, evidenciado nos detalhes dos tecidos e dos bordados, bem como na pose da personagem.
A iconografia sobre D. Carlota Joaquina é bastante rica. No geral, malgrado os cuidados que cercavam quadros de soberanos da época, que deveriam ser representados pelos artistas de modo a engrandecê-los e, com isso, também as monarquias que personificavam, essa iconografia nos traz a imagem de uma mulher desprovida de dotes de beleza. Tal representação consagrou-se no imaginário popular, sobretudo por causa do filme Carlota Joaquina, Princeza do Brasil (1994), de Carla Camaruti, deliciosa paródia da família real portuguesa, e no qual Carlota é vista como uma mulher feia, adúltera voraz e extremamente ambiciosa, sempre pronta a trair o marido, D. João. É preciso, contudo, tomar cuidado com essas representações da atualidade e, da mesma forma, com aquelas construídas pela iconografia e por testemunhos de contemporâneos dos soberanos lusitanos, levando sempre em consideração os interesses que as movem.
Em 1783, o Marquês de Louriçal descreveu-a em documento diplomático como alta, bem feita de corpo, com feições perfeitas, dentes brancos, face branca e corada, marcada por covas resultantes da varíola que a acometera. Laura Junot, Duquesa de Abrantes, esposa de Jean-Andoche Junot, embaixador francês em Portugal e, depois, general que invadiria o reino em fins de 1807, pintava D. Carlota como “medonha”, tamanha a sua feiúra, acrescentando que era coxa, em razão de uma queda de cavalo, “disforme”, com a “cabeça mais bizarramente feia que jamais passeou por este mundo”, com olhos “pequenos, tortos”, que só deitavam “olhares maldosos”, boca “repelente” e cabelos que pareciam uma “crina”.
Exageros à parte, D. Carlota foi uma menina sapeca, de muitos maus modos e, depois, já adulta, mulher ambiciosa, de inteligência singular, que não se conformava com a posição que lhe queria impor o marido, com quem viveu em clima de guerra por questões pessoais e políticas. Suspeita-se que o tenha envenenado, além de ter, no curso da vida, tentado aplicar-lhe golpes políticos. Adepta de posições políticas tradicionais e antirrevolucionárias, recusou-se a jurar a Constituição portuguesa, sendo por isso desterrada para o Palácio do Ramalhão. Endereçou, então, ao esposo uma carta, na qual se lê: “Na terra do desterro eu serei mais livre que V. M. [Vossa Majestade] em vosso palácio. Eu levo comigo a liberdade: o meu coração não está escravizado; ele jamais curvou diante de altivos súditos que têm ousado impor leis a V. M.”.
Luiz Carlos Villalta é professor da UFMG
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