A resposta, devemos avisar, é repleta de grosserias e palavras de baixo calão


A Resposta dos Cossacos

Em 1675, os cossacos de Zaporogian – uma região semiautônoma do centro da Ucrânia – derrotaram as forças do sultão Mehmed IV em batalha. Em vez de se resignar com a derrota, o líder otomano mandou a eles um ultimato, exigindo que se rendessem e o aceitassem como seu monarca. 

Os cossacos, com seu agudo senso de independência, responderam com uma das cartas mais grosseiras da história, se não a mais. Essa resposta deu origem à obra A Resposta dos Cossacos, do artista Ilya Repin, concluída no final do século 19. Confira abaixo as cartas na íntegra. A resposta, devemos avisar, é repleta de grosserias e palavras de baixo calão. 

A análise da obra você encontra na seção Arte da edição 144, de julho de 2015, de Aventuras na História.

Carta 1

Carta de Mehmed IV aos cossacos

Como o sultão; filho de Maomé; irmão do sol e a lua; neto e vice-rei de Deus; governante dos reinos da Macedônia, Babilônia, Jerusalém, Alto e Baixo Egito; imperador dos imperadores; soberano dos soberanos; cavaleiro extraordinário, nunca derrotado; guardião incansável da tumba de Jesus Cristo; delegado escolhido por Deus em pessoa; a esperança e conforto dos muçulmanos; cofundador e grande defensor dos cristãos – Eu ordeno a vocês, os cossacos zaporogianos, que se submetam a mim voluntariamente e sem qualquer resistência, e que desistam de me perturbar com seus ataques.

Carta 2 - Resposta dos cossacos

Cossacos zaporogianos ao sultão turco!

Oh sultão, demônio turco e maldito amigo e parente do diabo, secretário do próprio Lúcifer. Que diabos de cavaleiro é você, que não pode matar um porco-espinho com seu traseiro pelado? O diabo excreta e seu exército come. Não ireis, filho de uma cadela, fazer de súditos os filhos dos cristãos; nós não temos medo de seu exército, por terra e mar iremos combater a ti, e que se dane sua mãe. 

Sois um serviçal babilônico, fazedor de rodas macedônico, cervejeiro de Jerusalém, come-cabras de Alexandria, criador de porcos do Alto e Baixo Egito, porco da Armênia, ladrão podoliano, pederasta passivo do Tártaro, carrasco de Kamyanets, e bobo da corte de todo o mundo e submundo, um idiota perante Deus e neto da Serpente, câimbra de nosso falo. Nariz de porco, rabo de égua, vira-latas de abatedouro, testa sem crisma, que se ferre você e sua mãe!

Assim os zaporogianos declaram, oh fracassado. Não irás nem mesmo criar porcos para os cristãos. E agora concluímos, pois não sabemos a data e não temos calendário; a lua está no céu, o ano está com o Senhor, o dia é o mesmo aqui que aí, e por isso beije nossa bunda!

Koshovyi Otaman* Ivan Sirko, com toda a comitiva zaporogiana. 

*Patente militar entre os cossacos.

Fonte: Aventuras na História

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