Memória de minhas putas tristes – Gabriel García Márquez

[…] Desde então comecei a medir a vida não pelos anos, mas pelas décadas. A dos cinquenta havia sido decisiva porque tomei consciência de que quase todo mundo era mais moço do que eu. A dos sessenta foi a mais intensa pela suspeita de que já não me sobrava tempo para me enganar. A dos setenta foi temível por uma certa possibilidade de que fosse a última. Ainda assim, quando despertei vivo na primeira manhã de meus noventa anos na cama feliz de Delgadina, me atravessou a idéia complacente de que a vida não fosse algo que transcorre como o rio revolto de Heráclito, mas uma ocasião única de dar a volta na grelha e continuar assando-se do outro lado por noventa anos a mais. (p. 119-120).


Memória de minhas putas tristes – Gabriel García Márquez

A história de um velho cronista e crítico musical que, em seu aniversário de 90 anos, pretende presentear a si mesmo com uma noite de amor louco com uma jovem virgem. Memória de minhas putas tristes desfia as lembranças de vida desse inesquecível e solitário personagem em mais um vigoroso livro de Gabriel García Márquez. O leitor irá acompanhar as aventuras sexuais deste senhor, narrador dessas memórias, que vai viver cerca de cem anos de solidão embotado e embrutecido, escrevendo crônicas e resenhas maçantes para um jornal provinciano, dando aulas de gramática para alunos tão sem horizontes quanto ele, e, acima de tudo, perambulando de bordel em bordel, dormindo com mulheres descartáveis, até chegar, enfim, a esta inesperada e surpreendente história de amor.


Gabriel García Márquez - Famoso e importante escritor, jornalista, editor e militante político colombiano, apelidado carinhosamente de Gabito, nasceu em Aracataca, no departamento de Magdalena, na Colômbia, no dia 6 de março de 1927. Seus pais, Eligio García e Luiza Santiaga Márquez Iguaran, tiveram onze filhos, e para sustentar a família mantinham uma pequena farmácia especializada em Homeopatia.

Ele passou sua infância na casa de seus avós maternos, fundamentais para o futuro escritor, que se inspiraria nestas figuras – o avô, Nicolás Márquez, veterano da Guerra dos Mil Dias, travada entre liberais e conservadores colombianos; a avó, Tranquilina Iguarán – para criar seus personagens, principalmente os que povoam as páginas de seu clássico Cem Anos de Solidão. Aos oito anos ele perde o avô, em 1936. Sua famíla então parte de Aracataca, por motivos econômicos, e Gabriel conclui seus primeiros estudos na cidade de Barranquilla e depois no Liceu Nacional de Zipaquirá.

O escritor cresce apaixonado pelos livros, principalmente pelas histórias das Mil e Uma Noites e pelo irrealismo de Kafka em A Metamorfose, obra na qual Gabriel mergulha sua imaginação e percebe que ela não tem limites. Em 1947 ele se transfere para Bogotá, ingressa nos cursos de Direito e de Ciências Políticas na Universidade Nacional da Colômbia, mas não chega a se graduar, entrando logo em seguida pelo caminho do Jornalismo, quando se muda para Cartagena das Índias.

Ele atua na esfera da imprensa no jornal El Universal, seu primeiro trabalho; no períódico El Heraldo, no ano de 1949, em Barranquilha – nesta mesma época ele integra um grupo de escritores que tinha como objetivo incentivar a literatura; em 1954 ele inicia sua trajetória no El Espectador como repórter e crítico, circulando pelo continente europeu como correspondente deste veículo. Voltando para Barranquilha, contrai matrimônio com Mercedes Barcha, com quem tem dois filhos, o futuro diretor de cinema Rodrigo García e Gonzalo.


Logo depois ele exerce seu ofício na cidade de Caracas, na Venezuela, seguindo em 1961 para Nova York, novamente como correspondente internacional, administrando aí a agência de notícias Prensa Latina, mas suas posições a favor de Fidel Castro o levam a ser assediado pela CIA, provocando sua mudança para o México. Neste país ele inicia a carreira literária, escrevendo a princípio roteiros cinematográficos. Sua primeira obra ficcional é La Hojarasca, lançada em 1955; depois é publicada a ficção Ninguém Escreve ao Coronel, de 1961, seguida pelo seu livro mais célebre, Cem Anos de Solidão, publicado em 1967.

Sua criação Relato de um náufrago, embora anterior aos livros já citados, foi publicada inicialmente no jornal El Espectador, sendo editada na forma de livro bem depois, sem o conhecimento do próprio autor. Outras de suas publicações são Crônica de Uma Morte Anunciada e O Amor nos Tempos do Cólera, entre várias obras de ficção e de não ficção. Seu clássico literário, Cem Anos de Solidão, é respeitado pela crítica como um marco da literatura da América Latina, pioneiro em um estilo que seria conhecido como Realismo Fantástico. Em 1982 ele conquista o Prêmio Nobel pelo conjunto de sua obra.

O escritor viveu na Espanha até 1975, retornando para a Colômbia em 1981, mas em sua terra natal é acusado pelo Estado de ser colaboracionista da guerrilha. Neste momento ele decide voltar para o México. A partir de 1999 ele retoma o jornalismo, assumindo a direção da revista Cambio. Em 2002, Gabriel García Márquez lança Viver para Contar, autobiografia na qual ele envereda após descobrir que está com um câncer linfático, o qual vem tratando na Ilha de Cuba.

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