Descanse em poesia, Tula Pilar Ferreira


Trocou as vassouras pelas tintas da caneta. Não queria mais limpar. Queria mesmo era sujar. Espalhar liberdade pelos chão onde pisava. Sentir. Escrever. Declamar. Tula Pilar Ferreira colocou sobre o papel a sua própria história. Deixou um legado de palavras soltas no ar para quem precisar se encontrar. Soltou em sua voz a força e a sensibilidade da mulher negra, ao mesmo tempo. Carregou sua postura irreverente como um abraço em quem a viu.


Rimou o trajeto da mulher negra. Teve histórias rasgadas pelas patroas. Agradeceu a dor dos presentes usados. Dormiu no quarto que não era seu. Comeu o que sobrou da vida. Viu um sarau sem saber que era. Escrevia desde pequena, mas já era mãe. Decidiu dar poesia à vontade. Sem migalhas. Sem misérias. Sem medos. Dançou. Declamou. Interpretou. Sorriu. Chorou. Emocionou. Não pediu nada em troca: nos presenteou com sua história.

Foi aplaudida. Ousou viver de poesia. E partiu também assim, poeta e aplaudida. Lembrou que todas as mulheres negras escritoras são Carolina Maria de Jesus. Que Carolina te receba com um abraço, papel e caneta, onde quer que estejam agora, Tula Pilar Ferreira. Paz é pouco para quem tinha na voz a força e a sensibilidade das palavras. Daqui, te guardamos história em nossos corações. Daí, descanse em poesia.

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