Dia Nacional do Livro: deficientes visuais falam sobre a importância da literatura acessível e os desafios para encontrar livros em braille

 O Dia Nacional do Livro, comemorado nesta terça-feira, 29 de outubro, celebra a literatura e a leitura. Mesmo assim, brasileiros com deficiência visual ainda enfrentam barreiras significativas para acessar obras literárias adaptadas, como livros com escrita em braille.

Imagem de arquivo - Mulher com deficiência visual lê livro em Braille em biblioteca. — Foto: Raquel Morais/g1

👩‍🦯 Braille é um sistema de escrita com pontos em relevo que as pessoas com deficiência visual podem ler pelo tato (dedos) e também escrever.

A tecnologia tem trazido novas formas de acessibilidade à literatura, como os audiobooks, que permitem que mais pessoas tenham acesso a histórias e informações. No entanto, nem todos possuem essas tecnologias, fazendo com que o braille ainda seja uma opção mais viável de acessibilidade para deficientes visuais.

Carlos Peres, de Jacareí, tem 43 anos e perdeu a visão nos primeiros dias de vida. Ainda criança, foi alfabetizado em braille e, apaixonado pela leitura, é formado em letras. Ele atua hoje como professor de português e braille.

"Nem todos os deficientes visuais são adeptos do braille, tem pessoas que são mais resistentes, seja por que tem um resíduo da visão ainda, ou por vontade mesmo, mas tem pessoas que têm vontade de aprender o braille por que eram leitores, até alunos meus que eram professores e perderam a visão", conta o professor.

Apesar da vontade de ler em braille, encontrar esses livros pode ser um pouco mais trabalhoso que o normal, já que muitas bibliotecas e livrarias não possuem um acervo adequado, e a produção desses livros é mais demorada e custosa, o que limita que os deficientes tenham acesso aos materiais.

"São poucas distribuidoras no Brasil que produzem materiais em braille, elas produzem geralmente para prefeituras. Então, uma forma de ter um acesso é tendo cadastro com essas distribuidoras. Como a produção de materiais digitais é mais rápida, principalmente dos conteúdos mais recentes, os meios digitais se tornam mais eficientes. Livros mais vendidos, vencedores de prêmios, talvez sejam mais difíceis de encontrar em braille", completou.

Papel com o código braille, em alto relevo — Foto: Divulgação

Maria Goretti Cortes perdeu a visão aos dez anos e, desde então, se dedicou a compreender melhor a deficiência visual e a promover a inclusão de outras pessoas que enfrentam desafios parecidos.

Para isso, ela se especializou na área. Ela também é especialista em autismo, psicopedagogia, orientação educacional, administração educacional, é formada e habilitada em educação inclusiva, educação especial e em outras áreas. Além de ser, claro, uma leitora de carteirinha.

"Gosto muito de ler livros, tanto em audiobook como também em braille, gosto de ler vários tipos de livros, tenho preferência pela leitura, mas ouço e utilizo o recurso do iBook para que eu possa interagir. Faço leituras constantes e gosto de ler livros diversificados", conta.

Hoje, aos 57 anos, Maria está aposentada e não atua mais nas escolas, mas continua oferecendo suporte para aqueles que a procuram fora do ambiente escolar.

Para obter as diversas formações que possui, o material didático adaptado em braille foi fundamental. Por isso, ela defende que os livros com acessibilidade para deficientes visuais, com a escrita em braille, sejam mais popularizados, facilitando o interesse e o acesso à leitura para esse grupo.

Leitura em braille. — Foto: Reprodução/TV Grande Rio

Braille — Foto: Chico Escolano / EPTV


Fonte: G1

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