Visando preencher uma importante lacuna, a dos estudos acerca dos Vikings, ano passado foi lançado o livro Deuses, Monstros, Heróis do professor específico em estudos da civilização Viking, Johnni Langer (UFPR).
Prefaciado por Hilário Franco Jr. (USP), dividido em 7 capítulos e 3 anexos, esta obra preza tanto pela profundidade de sua contribuição como sendo um manual didático para os interessados no assunto.
No prefácio, Franco Jr. faz uma revisão acerca dos estudos feitos no Brasil e indica a referência conservadora e européia de nossos estudos. É por ele é também destacada a complexibilidade dos Vikings, inicialmente pelas fontes de estudo (literárias e iconográficas) e que podem trazer um novo leque de possibilidades para os futuros estudantes dos Vikings, um exemplo disso são as diferenciações dos rituais, como o sacrifício que pode ser compreendido de modos diferentes e conforme o tipo de cultura.
No primeiro capítulo (Midvinterblot, o sacrifício humano na cultura Viking e no imaginário contemporâneo) Langer analisa a obra Midvinterblot em paralelo com a própria cultura Viking; ao longo do capítulo ele desmistifica sobre vários pontos do estereótipo construído aos Vikings.
Partindo da visão cristã, Langer associa ao quadro de Midvinterblot características próprias dos Vikings como os papéis da mulher e da criança, com a mulher ocupando um papel de maior destaque na sociedade, como direito a heranças e divórcio e a criança, considerava sem importância social, o direito a alimentação dada à criança era inclusive entendido como um direito a vida.
A sociedade Viking segundo Langer era estratificada, os guerreiros não podiam entristecer como, por exemplo, em funerais de familiares; os reis eram superiores a qualquer outro seguimento e a violência era uma das formas de controlar a sociedade. Também neste capítulo é explorada a imagem dos Vikings, como a representação de brutamontes e bárbaros, Langer descontextualizada a ideia de traição agregada aos chifres, que podem ser mais bem expressados na Idade Média como a ideia de poder.
No segundo capítulo (Erfi: o funeral Viking na pintura oitocentista) a ênfase esta nos funerais Vikings. Partindo da ideia do bárbaro, que vai de Heródoto até Richard Wagner e que foram construídas outras ideias, segundo Langer existe um anacronismo ou confusão referente à significação dos chifres que em Latim pode ser entendidos como a ideia de fertilidade ou poder e não a atual ideia de traição; os capacetes com chifres eram mais comuns aos povos celtas.
Dos funerais, aponta Langer, nos Vikings tinham características próprias como o uso ritualístico das embarcações, vários pertences iam com o defunto e o fato do homem na sociedade Viking não poder chorar, sendo apenas aceitável esse papel para a mulher.
O papel das Valquírias é o tema do terceiro capítulo (Guerreiras de Odin: As Valquírias na mitologia Viking). A sociedade, que podia ser dividida entre livres e escravos, também tem a divisão quanto à posição dos gêneros masculinos e femininos na sociedade Viking com o grupo masculino no poder, as mulheres possuíam um caráter secundário, pois eram poucos os relatos de guerreiras Vikings nas batalhas, embora existentes.
As Valquírias ou Valkyrja (a que escolhe os mortos na língua rúnica) são sempre representadas no papel de condutoras que levam os mortos, e aqueles que em guerra morreram para o descanso eterno, para elas é nitidamente destacada sua representação como damas, a partir do ideal masculino.
No quarto capítulo (O culto a Odin entre os Vikings: Uma interpretação iconográfica da estela de Hammar I) são exploradas as runestones (também chamadas de megálito, monumento pétreo ou menir) que mesmo carente de imagens são consideradas as fontes mais fiéis de estudo da cultura Viking, consideradas também fontes primárias.
Ficando a referência para os futuros estudos, Langer norteia acerca das possibilidades dos produtores e a influência deles nas próprias runestones, algumas de suas qualidades são exploradas pelo livro; como a função de memória e a função “pedagógica” que elas mostram aos seus observadores. Características da sociedade Viking também são descobertas nas runestones, como a ilha de Gotland (Suécia) se diferenciar do resto da sociedade escandinava, o número 9 que era considerado sagrado, a simbologia do nó como usado nos cabelos das mulheres escandinavas e o cavalo considerado um ser sagrado, como o cavalo de Odin, o Sleipnir que possuía 8 patas.
Elementos do funeral Viking são descritos nas runestones, como o Valholl (salão dos mortos) considerado muito honroso para os guerreiros que morressem em batalha, mas também são exploradas algumas dúvidas neste capítulo acerca dos funerais, como a provável função do navio servir de balsa ao mundo dos mortos, a simbologia dos objetos nos navios e os próprios guerreiros nos rituais. A afinidade entre os Celtas e os Vikings carece ainda de melhores estudos.
A transformação e simbologia do dragão é o tema do quinto capítulo (O mito do Dragão na Escandinávia pré-Viking).
O centro da ideia neste capítulo esta no imaginário do dragão na sociedade escandinava anterior ao período Viking, como na Suécia medieval usava-se a imagem de dragões, e anterior a ela várias sociedades usavam o dragão, baseados em animais como o leão, serpente e o crocodilo.
A expressão Drakkar (que era como os franceses chamavam os barcos Vikings) pode ter origem no Latim Drako, que significa serpente de grandes proporções, possivelmente devido ao fato dos barcos de guerra Viking ser adornados com imagens de dragões.
O centro da ideia neste capítulo esta no imaginário do dragão na sociedade escandinava anterior ao período Viking, como na Suécia medieval usava-se a imagem de dragões, e anterior a ela várias sociedades usavam o dragão, baseados em animais como o leão, serpente e o crocodilo.
A expressão Drakkar (que era como os franceses chamavam os barcos Vikings) pode ter origem no Latim Drako, que significa serpente de grandes proporções, possivelmente devido ao fato dos barcos de guerra Viking ser adornados com imagens de dragões.
Ainda no mesmo capítulo, uma intrigante imagem em Smiss At Nar (Noruega) mostra um homem com características femininas, incomum com o que era aceito na sociedade Viking, sendo esta outra importante dica de pesquisa.
No sexto capítulo (A origem dos estereótipos sobre os Vikings) a ênfase esta nas representações atribuídas aos Vikings. Divididas entre as que trazem uma representação que busca através de estudos melhor aprofundados a imagem mais satisfatória, como as telas do pintor Norueguês Peter Arbo, Tom Lovell e Johanes Flintol, a famosa tela Funeral of a Viking de Francis Dicksee, no cinema com os filmes The Viking (1958), o 13º guerreiro (1999), documentários como Erik o Viking (1989) e The Vikings Saga da BBC/Discovery Channel (1999) e nos quadrinhos com a série Thorgall, nestes exemplos a sociedade Viking esta bem representada.
A outra representação, estereotipada, pode ter iniciado na Idade Média com os ataques que os Vikings faziam aos mosteiros e templos religiosos e que a Igreja dava um aspecto negativo. O estereótipo do Viking bárbaro, portando capacete com chifres, usando pele de animais aparece em variadas formas, como nas pinturas de Guizot como o quadro “A chegada dos Normandos a América”, na tela “O Ouro de Nibelungos” (Vikings com cornos), mas os principais atores para esta propagação são o cinema e os quadrinhos. Asterix (1959), El Capitan (1960), Thor (1962), Eric The Noorman (1962) e Eric The Viking (1965) concretizam o estereótipo criado no romantismo oitocentista dos guerreiros bárbaros, o Príncipe Valente, que possuía origem Viking e os quadrinhos da série Conan, inspirados no filme de 1982 (com Arnold Schwarzenegger), juntos ao enorme sucesso de Hagar o Horrível (1965) de Dik Browne fortaleceram a ideia, que ficou predominante na contemporaneidade dos brutamontes que aterrorizavam a Idade Média.
Langer neste capítulo usa de argumento que os mais recentes estudos elucidam dos Vikings, diferente do estereótipo bárbaro, eles usavam sofisticadas roupas (inclusive exportavam), possuíam um sofisticado padrão de cozimento de alimentos, tinham uma curiosa inclinação ao humor e tinham em média 1,70 metros de altura.
A outra representação, estereotipada, pode ter iniciado na Idade Média com os ataques que os Vikings faziam aos mosteiros e templos religiosos e que a Igreja dava um aspecto negativo. O estereótipo do Viking bárbaro, portando capacete com chifres, usando pele de animais aparece em variadas formas, como nas pinturas de Guizot como o quadro “A chegada dos Normandos a América”, na tela “O Ouro de Nibelungos” (Vikings com cornos), mas os principais atores para esta propagação são o cinema e os quadrinhos. Asterix (1959), El Capitan (1960), Thor (1962), Eric The Noorman (1962) e Eric The Viking (1965) concretizam o estereótipo criado no romantismo oitocentista dos guerreiros bárbaros, o Príncipe Valente, que possuía origem Viking e os quadrinhos da série Conan, inspirados no filme de 1982 (com Arnold Schwarzenegger), juntos ao enorme sucesso de Hagar o Horrível (1965) de Dik Browne fortaleceram a ideia, que ficou predominante na contemporaneidade dos brutamontes que aterrorizavam a Idade Média.
Langer neste capítulo usa de argumento que os mais recentes estudos elucidam dos Vikings, diferente do estereótipo bárbaro, eles usavam sofisticadas roupas (inclusive exportavam), possuíam um sofisticado padrão de cozimento de alimentos, tinham uma curiosa inclinação ao humor e tinham em média 1,70 metros de altura.
Acerca do último capítulo do livro (Os Vikings no Brasil: A história de um mito arqueológico) Langer faz uma análise sobre os mitos da possível vinda dos escandinavos no continente americano e especialmente o Brasil.
Começando pelo ano de 1893, em que o IHGB (Instituto de História e Geografia do Brasil) inaugura os primeiros estudos dos Vikings no Brasil, Langer elucida sobre dos vários mitos de pouca comprovação, como a pedra da Gávea, o mito das amazonas e a cidade perdida no interior da Bahia, existindo nessas descobertas um sentimento vinculado a ideia dos Vikings terem “descoberto” o Brasil, apesar da existência dos povos ameríndios, mas dando a eles uma posição secundária.
Pesquisadores dos Vikings no Brasil como Pierre Victor, Peter Lund e João Barbosa Rodrigues estariam seguindo esta linha, mas o ponto de destaque do capítulo é a obra Os Vikings no Brasil do francês Jacques de Mahieu, nele Langer confere um caráter mais fantasioso ao livro, mas que inspirou muito do mito Viking.
A vinda dos Vikings no Brasil é plausível de aceitação, mas carente de estudos profundos, comprovado mesmo somente a Vinland no norte do Canadá.
Começando pelo ano de 1893, em que o IHGB (Instituto de História e Geografia do Brasil) inaugura os primeiros estudos dos Vikings no Brasil, Langer elucida sobre dos vários mitos de pouca comprovação, como a pedra da Gávea, o mito das amazonas e a cidade perdida no interior da Bahia, existindo nessas descobertas um sentimento vinculado a ideia dos Vikings terem “descoberto” o Brasil, apesar da existência dos povos ameríndios, mas dando a eles uma posição secundária.
Pesquisadores dos Vikings no Brasil como Pierre Victor, Peter Lund e João Barbosa Rodrigues estariam seguindo esta linha, mas o ponto de destaque do capítulo é a obra Os Vikings no Brasil do francês Jacques de Mahieu, nele Langer confere um caráter mais fantasioso ao livro, mas que inspirou muito do mito Viking.
A vinda dos Vikings no Brasil é plausível de aceitação, mas carente de estudos profundos, comprovado mesmo somente a Vinland no norte do Canadá.
No primeiro anexo (As mais famosas fraudes epigráficas relatando Vikings na América e no Brasil) são estudadas algumas das principais fraudes, como a inscrição da pedra da Gávea (1839), a cidade perdida da Bahia (1839), a pedra de Dighton (1677) e o mapa de Vinland (1958), comprovando a cada fraude quais as provas que as configuram como falsas. No segundo anexo (Aspectos básicas da história e da cultura Viking) Langer narra com muitos detalhes à história dos Vikings, com os primeiros habitantes chegando por volta de 8000 a.C. na Escandinávia, a fase clássica Viking iniciando em 793 com os primeiros ataques a Inglaterra e finalizando em 1066 com a cristianização da Islândia e a batalha de Hastings. Outro destaque é a tecnologia náutica no auge em 800 (sem desenhos na produção dos navios), algumas características, como as famílias e todos os membros na mesma casa (desde pai, filhos, mãe e até escravos e outros familiares), divisão das sociedades (reis e chefes / fazendeiros, comerciantes, guerreiros e pescadores / escravos).
A cultura de guerra, como a simbologia da espada, o uso da faca por todos, modernas táticas de guerra como situações favoráveis aos seus ataques e festas após batalhas são explorados ao fim do capítulo.
A cultura de guerra, como a simbologia da espada, o uso da faca por todos, modernas táticas de guerra como situações favoráveis aos seus ataques e festas após batalhas são explorados ao fim do capítulo.
Resenhas de alguns livros é o foco do terceiro anexo (Resenha críticas). Alguns dos pontos de destaques das obras resenhadas se dão por conta da religião Viking, chamada de pagã pelos cristãos, que é sem centralização, ahistórica e sem livros de referência, ao contrario de outras como o cristianismo.
A incorporação da religião cristã na cultura Viking foi lentamente e com pouca resistência aceita no universo da sociedade escandinava. Conceitos importantes, como a religião Viking, que era mais baseada na ação, interessada em continuar a família e comunidade, aspectos do cotidiano como a ambigüidade herói/vilão e a poligamia que era comum entre os Vikings são algumas das informações destacadas por Langer acerca dos livros resenhados. Criticas a alguns livros, como Angus de Orlando Paes Filho e conceitos como o pertencimento dos Vikings ao grupo germânico, e não a outros grupos, são feitas neste capítulo.
A incorporação da religião cristã na cultura Viking foi lentamente e com pouca resistência aceita no universo da sociedade escandinava. Conceitos importantes, como a religião Viking, que era mais baseada na ação, interessada em continuar a família e comunidade, aspectos do cotidiano como a ambigüidade herói/vilão e a poligamia que era comum entre os Vikings são algumas das informações destacadas por Langer acerca dos livros resenhados. Criticas a alguns livros, como Angus de Orlando Paes Filho e conceitos como o pertencimento dos Vikings ao grupo germânico, e não a outros grupos, são feitas neste capítulo.
Em suma, o livro Deuses, Monstros, Heróis é um dos poucos manuais em língua portuguesa que traz aos leitores brasileiros estudos acerca da fascinante história dos Vikings. Sua linguagem, que tanto satisfaz pela sua profundidade nos estudos, também é acessível aos iniciantes do assunto.
O livro também destaca a quantidade de novos estudos que estão sendo feitos na atualidade e faz indicações de temas e questões que poderiam caber aos futuros estudos e projetos de pesquisas da temática Viking, alguns autores pouco conhecidos no Brasil de estudos Vikings, como Regis Boyer, Hilda Davidson e James Graham Campbell são indicados na presente obra.
Expressões e escrita no original rúnico são também mantidas no livro. O livro peca em não trazer internamente as imagens e outras fontes, como as runestones, o que força o leitor a procurar em outras mídias.
O livro também destaca a quantidade de novos estudos que estão sendo feitos na atualidade e faz indicações de temas e questões que poderiam caber aos futuros estudos e projetos de pesquisas da temática Viking, alguns autores pouco conhecidos no Brasil de estudos Vikings, como Regis Boyer, Hilda Davidson e James Graham Campbell são indicados na presente obra.
Expressões e escrita no original rúnico são também mantidas no livro. O livro peca em não trazer internamente as imagens e outras fontes, como as runestones, o que força o leitor a procurar em outras mídias.
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