Mesmo tardia, a invenção do vaso sanitário começou a
resolver uma séria questão de saúde pública que, por incrível que pareça,
assombra a humanidade até hoje
Bruno Lazaretti
Gravidade, inércia, ação e reação já estavam explicadas nas
melhores livrarias de Londres em 1687, enquanto a cidade inteira cheirava a
excremento humano - as valetas de rua, estagnadas de fezes e urina, atraíam
moscas, ratos e outras pragas.
A civilização esperou 6 mil anos para que Isaac
Newton publicasse as leis da física, mas teve de aguardar mais um século para
que Alexander Cumming patenteasse a primeira privada, em 1775. A Inglaterra,
centro e vanguarda do "mundo civilizado", foi o império do penico e
da cloaca. A estrutura mais parecida com um esgoto era o rio Tâmisa, que
recebia com as chuvas o lixo abandonado.
Cólera e febre tifoide eram só algumas
das enfermidades comuns por falta de saneamento - em Londres ou em qualquer
lugar. "Além das bactérias, os dejetos também podem transmitir vírus, como
o rotavírus e o da hepatite A", diz o infectologista Stefan Cunha Ujvrai.
A dificuldade por trás dessa "demora" não foi tecnológica, mas
lógica. Sem a assimilação entre doenças e o tratamento inadequado dos
excrementos, avanços e retrocessos na área sanitária revezavam-se à revelia da
cronologia histórica. Os romanos tinham sistemas exemplares no século 4, mas,
na Idade Média, o hábito nas cidades europeias era esvaziar os penicos pela
janela. Newton teve sorte com aquela maçã... Até o século 15, o mais comum era
promover "o despejo" do andar superior da casa. Em Paris, antes,
gritava-se "Água vá!".
O vaso sanitário conectado a uma rede de esgoto subterrânea ficou popular só a
partir do século 19. "Foram as cidades industriais lotadas da Inglaterra
Vitoriana que ergueram a privada moderna, especificamente por causa das
epidemias crônicas de cólera", afirma Julie Horan, professora de educação
comparada na Universidade da Virgínia. Mas o herói dessa revolução foi mesmo o
reformista inglês Edwin Chadick, que, em 1842, relacionou doenças como aquela
ao indevido tratamento dos excrementos humanos.
Uma conclusão aparentemente
mais simples e menos importante do que "toda partícula de massa no
universo atrai outra". Bem, você não pensaria assim se tivesse de limpar
sua própria latrina.
Acesse o site e clique para ampliar (design: Fábio Matxado /
ilustração: Pedro Hamdam)
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