Papa Bento XVI
dirigindo Consistório no Vaticano nesta Segunda-feira (11), quando
anunciou sua renúncia ao papado - Osservatore Romano/Reuters
A surpreendente renúncia do Papa Bento XVI,
de 85 anos, anunciada na manhã desta segunda-feira, não é algo inédito
na história da Igreja Católica.
Segundo Richard McBrien, teólogo e padre
americano, autor do livro Os Papas (Editora Loyola), inúmeras
renúncias foram protocoladas ao longo dos últimos 2000 anos.
O autor
calcula que seis papas abdicaram, de fato, ao posto máximo do
catolicismo - mas outros podem ter sido forçados a renunciar por razões
políticas ou territoriais, sobretudo nos primórdios da criação da
Igreja.
A primeira renúncia ocorreu em 235 d.C., feita pelo papa Ponciano,
quando este estava em exílio na Sardenha e percebeu que jamais seria
solto para voltar ao Vaticano. À época, a ilha do Mediterrâneo era
conhecida como a "ilha da morte".
O papa Silvério também abdicou da
Cátedra de Pedro em 537 d.C., ao ser obrigado pela imperatriz Teodora a
se exilar na ilha de Palmaria, também no Mediterrâneo. Quando conseguiu
voltar ao Vaticano, a imperatriz já havia colocado outro pontífice em
seu lugar, o papa Virgílio.
Quase 500 anos depois, em 1009, teve-se notícia de uma nova renúncia: a
do papa João XVIII, que abdicou pouco antes de sua morte para viver
como monge na basílica de São Paulo, em Roma.
O papa Bento IX renunciou
em 1045 para beneficiar seu padrinho, João Graciano, que veio a se
tornar o papa Gregório VI - mas Bento IX foi reempossado dois anos
depois.
O papa Celestino V, que abdicou em 1234, é erroneamente considerado o
primeiro papa a renunciar ao episcopado, segundo o livro de McBrien. Era
um administrador ruim para a Igreja, nomeando cardeais diferentes para
ocupar os mesmos cargos. Protocolou sua renúncia porque as obrigações da
função não lhe permitiam a vida de eremita que almejava.
O último papa a renunciar antes de Bento XVI foi Gregório XII, em 1415
A renúncia foi parte de uma negociação feita no Concílio de Constança,
no período do Grande Cisma do Ocidente - uma grande crise religiosa que
ocorreu na Igreja Católica de 1378 a 1417. Gregório tinha 90 anos à
época e sua renúncia fez com que a crise se estancasse.
Segundo o livro de McBrien, não se tem notícia de um papa que tenha
renunciado por motivos de incapacidade física ou mental.
Há rumores no
Vaticano de que João Paulo II, que morreu em abril de 2005, havia
escrito uma carta de renúncia e a deixado com os cardeais para que fosse
protocolada caso ele fosse vítima de qualquer tipo de doença que o
deixasse incapacitado.
A renúncia de Bento XVI foi tão surpreendente que levou o diretor de redação do jornal italiano La Reppublica
a escrever:
"Veremos uma sucessão de ineditismos. Não há história,
literatura, doutrina, sequer uma prática estabelecida à qual se referir.
O conclave não ocorrerá depois das exéquias, mas com um papa vivo. Esse
conclave deverá se confrontar não somente com a memória do papa, mas
com a força de seu pensamento - neste caso um papa teólogo,
intelectual."
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