Desde o século 17, os homens fizeram do terno uma forma de expressão política
Érica Georgino
Maiores potências políticas e culturais do mundo ocidental durante séculos, França e Inglaterra disputam ainda hoje a paternidade de uma combinação que revolucionou a forma de os homens se apresentarem em sociedade. O terno - por definição moderna, formado por paletó, colete e calça confeccionados com o mesmo tecido - vestiu os soberanos de Versalhes e Gales no século 17 e, desde então, tem se firmado como sinônimo de status e poder.
"O terno era a roupa do rei e transformou-se em tradição: define o homem, sua imagem de trabalho e liderança a partir do momento que Luís XIV vestiu-o para assinar seus despachos", diz Lula Rodrigues, autor de Almanaque da Moda Masculina. Nesses três séculos e meio de trajetória, o terno figurou também em cortesãos, plebeus, burgueses e homens de negócio, promovendo uma identidade visual cada vez mais afastada do universo feminino. "A alfaiataria é uma técnica específica, que promove a arquitetura elaborada do corpo e de sua imagem", explica Patricia Sant’Anna, pesquisadora do Grupo de Estudos em Arte, Design e Moda da Unicamp.
Dos bordados à alfaiataria
A evolução das peças que viraram traje universal
Segunda metade do século 17
Trajes reais
Luís XIV, o Rei Sol, governou a França por mais de sete décadas. Seu império caracterizou-se pela pujança, refletida nos ricos bordados que vestia em sua combinação de trabalho. Os expedientes reais eram cumpridos em trajes que compunham os primórdios do terno. Na Inglaterra, Charles II instituiu o uso do colete em 7 de outubro de 1666.
Século 18
Pompa comedida
No decorrer de 1700, os aristocratas vestem rendas e bordados aplicados em tecidos como cetim, veludo e brocado. Os volumes seriam, no entanto, reduzidos até o fim do século. Cada vez mais, homens e mulheres diferenciam-se pela forma de se apresentar em público. Os excessos tornam-se atributos do guarda-roupa feminino.
Virada século do 18 para o 19
Revoluções liberais
A História sofre momentos de efervescência. Revoluções como a Francesa marcam o mundo ocidental, com o triunfo da burguesia, que valoriza o trabalho e ascende desfilando tons escuros e foscos. O homem burguês deixa a ostentação a cargo de sua esposa. Com a vida aristocrática em desuso, caem perucas, brilhos e grandes joias.
Século 19
Combinação definitiva
Alguns pesquisadores definem esse como o século em que o terno encontra a sua forma moderna. O paletó torna-se cada vez mais usado nos anos 1800. A Revolução Industrial inglesa ganha o mundo e impulsiona a tecelagem: no fim do século, o terno já era a roupa masculina corrente.
Início do século 20
Todos os tamanhos
As novas tecnologias de confecção e a urbanização ampliam a oferta e a demanda por ternos. Se antes eles eram restritos à alfaiataria, agora os modelos são popularizados pela produção em massa nos tamanhos P, M e G. O mundo empresarial inglês e americano dita que o poder é expresso pela discrição.
Século 20
Todos os gostos
As liberdades individuais e sociais são acompanhadas pelas infinitas possibilidades de combinações das peças. O modelo usado nos anos 1960 pelos Beatles foi uma apropriação das ideias do estilista Pierre Cardin. Desde 2009, Barack Obama tem influenciado o mundo com seus paletós de dois botões.
Acessórios
Curiosidades sobre os acompanhantes do terno
Gravata
Luís XIV teria popularizado o acessório, inspirado nos longos lenços que mercenários croatas usavam no pescoço. Cravate, em francês, é derivado do adjetivo pátrio croate.
Smoking
O luxuoso conjunto aparece por volta de 1880, adotado por jogadores de cartas, cansados de passar a noite de casaca. Até 1910, o modelo limitava-se às reuniões masculinas.
Colarinho branco
Quando a burguesia se estratifica, surgem os colarinhos brancos, em oposição aos azuis, dos trabalhadores. Eles viram símbolo da falta de esforço.
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