O educador Celso Antunes será um dos palestrantes que irá fechar a programação da Educar/Educador e Bett Brasik 2014. No dia 24 de maio, às 17h, Celso Antunes irá ministrar a palestra“Pelo (re)encantamento da escola: admiração, confiança e o prazer na aprendizagem”. Mas o palestrante já escreveu, exclusivamente para o site do evento, um texto que contextualiza de forma especial essa mesma temática.
Celso Antunes. Mestre em Ciências Humanas, especialista em Inteligência e Cognição. Autor de mais de 50 obras sobre temas educacionais editadas no Brasil e traduzidas na Europa, América do Norte e todos os países da América do Sul. Membro Diretor da Associação Internacional pelos Direitos da Criança Brincar (UNESCO). Já proferiu palestras, cursos e seminários no Brasil, Uruguai, Argentina, Espanha, México e Portugal.
Escolas existem no mundo inteiro. Com variações que envolvem bem mais o como se faz do que propriamente o que se faz. Existem escolas no Ocidente e no Oriente, em países democráticos e em outros de marcante pressão ditatorial, em países ricos e culturalmente avançados e em outros que apenas assim se afirmam. Essa presença e uniformidade mundial da escola chegam ser surpreendentes.
Não seria possível imaginar um país onde os familiares fossem os únicos transmissores da herança cultural? Seria absurdo pensar que em outro, sábios conselheiros via internet, se encarregassem de transmitir os postulados necessários para se bem viver e de maneira eficiente se formar? A resposta é “não”. Claro que não. A escola é imprescindível da maneira como está instituída e é por esse motivo que dessa mesma forma está em toda parte instituída.
Mas, vale a pena teimosamente insistir: Por que a escola, da forma que é, é imprescindível? Será realmente ou representa uma convenção e simples desejo teimoso de manter nos tempos de agora o que em outros tempos se fez?
Não, rebaterão muitos. A escola é imprescindível porque a Declaração Universal dos Direitos do Homem diz em seu Artigo 26 que toda pessoa tem direito à educação e que esta deve objetivar pleno desenvolvimento da personalidade humana e ao fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e suas liberdades fundamentais. Mais ainda, prescreve que a educação deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos. Perfeito, se a escola existe por esses propósitos e se são eles essenciais para uma cultura de paz, tudo bem. São claras as razões do existir da escola e a essência incontestável de sua grandeza para a humanidade.
Mas, sobra a teimosia tímida de última pergunta: A escola que temos está efetivamente cumprindo esse desígnio? Efetivamente trabalhamos o pleno desenvolvimento da personalidade de nosso aluno? Favorecemos em nossas aulas, em todas elas, ações concretas que conduzam a compreensão, tolerância e amizade? Caso aleguem que a resposta é afirmativa, por favor, chamem-me depressa. Necessito com urgência do alento dessa descoberta; tenho fome e voracidade em conhecer escolas com essa incontestável razão de existir.
Infelizmente a maior parte das que conheço, e não conheço poucas aqui e lá fora, estão bem mais preocupadas em transmitir conhecimentos, ministrar conteúdos, adestrar competências do que, efetivamente, desenvolver ações que possam estruturar personalidades, favorecer a compreensão e a tolerância e ensinar a fazer amigos. Não destacamos a palavra “ações” por implicância. Achamos que “ações” são coisas diferentes de “conselhos” e nossa pergunta firma-se nessa diferença. Que hoje ou ontem, aqui e ali, nesta ou naquela aula, o professor possa ministrar conselhos que pretendam conduzir a estrutura integral da personalidade, não duvido. O pedido para que me chamem é, realmente, para observar e aprender com os professores ações concretas, exercícios de desenvolvimento da personalidade, projetos que ensinem a fazer amigos, educação emocional que trabalhando relações humanas possa realmente favorecer a compreensão e a tolerância. Uma escola, enfim, que suscitasse suspiros de admiração pela confiança e prazer na aprendizagem plena. Mas, seria isso possível? De que maneira os professores poderiam se engajar em um trabalho que, junto com os conteúdos curriculares que pensam ensinar, poderiam efetivamente trabalhar as razões cruciais para a escola existir?
A resposta não é difícil, ainda que não possa ser a mesma para toda parte. Um trabalho consciente jamais se distancia da contextualização desses valores à realidade do aluno e esta varia de um ponto para outro. O que fica de unidade nessa esperança, é que as escolas que se encantam na busca desse novo ensinar, o façam após discussões e reflexões de sua equipe docente. Nada de importar modelos, ainda que o estudo dos mesmos seja imprescindível, desnecessário clamar para que o Estado faça pela escola o que sua equipe, muito melhor que ele, pode por ela fazer. Exemplos expressivos de inclusão, práticas de relações interpessoais, estratégias múltiplas de educabilidade emocional estão sendo experimentadas em muitas partes e, ainda que possa existir uma dispersão em termos dos caminhos procurados, descobre-se a firme unidade na procura. Unidade que pouco a pouco se constrói com uma equipe de professores que aprenderam a amar sua profissão, dar dignidade ao seu esforço diário e acreditar que se por um amanhã melhor se espera, está em suas mãos e de nenhum outro profissional a materialização deste querer.
Fonte: feiraeducar
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