5 motivos para ler o romance O Idiota de Dostoiévski

Escrito entre os anos de 1867 e 1868, publicado pela primeira vez em 1869, este ano um dos mais importantes romances do russo Dostoiévski completa quase 150 anos. Durante todo este tempo, o livro marcou a literatura, não só russa, como por todo o mundo. Dostoiévski também escreveu outras obras as quais são, sem dúvida, icônicas em nossa cultura literária ocidental, como Crime e Castigo, Memórias do Subsolo, Irmãos Karamazov, entre outras. O Idiota, porém, tem um lugar um tanto especial na literatura, e alguns dos motivos para tanto estão listados abaixo. Confira a lista e prepare-se para uma leitura inesquecível (ou, caso já tenha lido a obra, comente se concorda com todos os motivos listados e diga que outros motivos poderiam ter sido inclusos nesta lista, na sua opinião).

Um ser humano perfeito em um mundo cruel

O protagonista é o príncipe Lev Michkin, que foi criado pelo escritor russo com o objetivo de retratar o homem ideal. “A ideia de Dostoiévski era retratar um homem perfeito, cheio de empatia por todo mundo e capaz de entender todos em um mundo de pessoas más e sujas”, de acordo com o site Polka.

Nos rascunhos de Dostoiévski, ele se refere a Michkin como “Príncipe Cristo”, e ele lembra mesmo Jesus: cheio de amor e perdão, sem qualquer ódio ou raivas ou qualquer imperfeição do tipo. No entanto, todos que o cercam consideram Michkin um imbecil – um verdadeiro idiota (ele realmente tem alguns problemas médicos). Por isso o título do romance é O Idiota.

Uma história que criou vida própria

A ideia inicial do escritor russo era, na verdade, criar um livro sobre um velhaco que encontrava Deus. Portanto, tudo acabou tomando um rumo diferente e o livro acabou sendo com enfoque no Príncipe Michkin, o cristão ideal, e sobre como tal personagem se encaixaria no mundo moderno, pois talvez sua existência nem sequer fosse bem-vinda.

Dostoiévski escrevia sem pensar no final do livro, só criando situações e escrevendo como cada personagem reagia, o que meio que deu liberdade para que os personagens criassem vida própria, o que pode ser notado através das ideias diversas e até mesmo opostas reveladas por cada personagem, o que o teórico Bakhtin chamou de polifonia narrativa.

Devido a tal experimento literário e ao peso psicológico que os personagens tinham sobre a narrativa até mesmo sobre o autor, Dostoiévski chegou a revelar a um amigo, através de uma carta que ““Minha cabeça estava em um turbilhão. É um milagre eu não ter pirado”.

Personagens intensos, vívidos e marcantes

Conforme foi comentado anteriormente, cada personagem neste livro possui uma visão de mundo muito própria, e o romance é composto de muitos personagens. Todos eles parecem ter alguma forte obsessão e personalidades marcantes, como Nastasia Filippovna, que foi abusada na infância e é considerada (até por si própria), como vil e decaída, ou o jovem Ipolito, de 18 anos, morrendo de tuberculose, que tenta se suicidar e cujas falas são algumas das mais fortes do romance: seu discurso sobre uma pessoa nunca ter a capacidade de revelar o mais único, original e essencial de um pensamento ou uma ideia, mesmo escrevendo por anos milhares de páginas chega a nos fazer refletir se, neste ponto, Dostoiévski estava deixando Ipolito ter voz própria ou se era o autor revelando um temor próprio.

Enfim, os personagens deste romance têm uma força própria que fazem com que a leitura seja marcante. Ou, como o articulista do século 19 Apollon Maikov escreveu sobre o romance “O idiota”: “Todos os rostos são brilhantes e coloridos, iluminados por alguma luz elétrica que os faz brilhar de maneira super natural, e você tem vontade de examiná-los mais a fundo”.

Uma janela para a Rússia do século XIX

“Dostoiévski escrevia ‘O idiota’ enquanto estava vivendo no exterior. Então ele tinha medo de ficar sem contato com a pátria e queria que o livro se tornasse algo de interesse atual. Ele lia todos os jornais russos, dedicando particular atenção à seção de ‘Últimas Notícias’”, de acordo com um artigo no portal Arzamas. Portanto, ao ler este romance, é possível ter uma boa ideia de como era a Rússia da época, pelos olhos dos personagens de Dostoiévski.

A sentença de morte do autor ganha vida na ficção

No início do livro, logo nos primeiros capítulos, o protagonista conta sobre um homem que é sentenciado à morte. A cena tem um realismo assustador, e há um motivo para isso: ela não é pura ficção.

“Suas três descrições dos últimos momentos de um homem condenado estão entre as mais sensacionais da literatura, ainda mais porque elas não foram inventadas”, escreveu o professor Gary Saul Morson, da Universidade de Artes e Humanidades de Northwestern, em um artigo sobre a obra.

Sim, infelizmente elas não foram inventadas, pois o próprio Dostoiévski realmente foi sentenciado à morte em 1849 por participar de um grupo revolucionário. Poucos minutos antes de sua execução, foi revelado que o tsar Nikolai I havia substituído sua sentença por anos de serviço pesado. No entanto, por dias o escritor já aguardava sua anunciada morte, experiência esta que o marcou para sempre, alterando sua personalidade e aparecendo em suas obras, ainda que tomando cores fictícias.

Fonte: notaterapia

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