UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
CAMPUS - GUARABIRA
CENTRO DE HUMANIDADES
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA
CARLOS
DOS SANTOS SILVA
2019
CARLOS
DOS SANTOS SILVA
A
MULHER NEGRA E SUA SECULAR INVISIBILIDADE DIANTE DE UM PROCESSO ELITISTA E
DISCRIMINATÓRIO NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
Artigo apresentado ao Programa de Graduação em História da
Universidade Estadual da Paraíba, como requisito parcial à obtenção do título
de Licenciatura em História.
Área de concentração: Mulheres Negras.
Orientador: Profa. Dra. Susel Oliveira.
GUARABIRA
2019
É expressamente proibida a comercialização desde documento, tanto na
forma impressa como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida
exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, desde que na reprodução
figure a identificação do autor, título, instituição e ano da
dissertação.
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Silva, Carlos dos
Santos
A
mulher negra e sua secular invisibilidade diante de um processo elitista e
discriminatório na Academia Brasileira de Letras / Carlos dos Santos
Silva. – 2019.
20 p.
Digitado.
Trabalho
de Conclusão de Curso (História) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro
de Humanidades, 2019.
“Orientação:
Profa. Susel de Oliveira, Departamento de História”.
Se trabalho
impresso, no verso da folha de rosto.
Não entra na contagem de páginas
Deve ser
solicitada através do site da Biblioteca:
https://sistemas.uepb.edu.br/sicb/
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CARLOS DOS SANTOS
SILVA
A
MULHER NEGRA E SUA SECULAR INVISIBILIDADE DIANTE DE UM PROCESSO ELITISTA E
DISCRIMINATÓRIO NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
FOLHA COM ASSINATURA DA BANCA
AGRADECIMENTOS
“Nossa história não é só sobre pobreza, pensamos sobre
tudo e escrevemos sobre tudo. Merecemos uma imortal. Mas deixa quieto,
Conceição. Eles não te merecem, tu já és imortal dentro de nós. Seria Conceição
na ABL, mas já é Conceição em todas nós” (Chimamanda Ngozi Adichie )
SUMÁRIO
Carlos dos Santos Silva
Resumo
Provocado pela ausência de mulheres negras ao longo dos mais de 120 anos
da ABL (Academia Brasileira de Letras), além do contexto histórico de explícita
misoginia e machismo de um espaço que usa de seletiva exclusão, o seguinte
artigo tenta problematizar como a produção e talento de mulheres negras parecem
não terem sido suficientes para um reconhecimento como sujeito de rica e
importante produção intelectual para os ditos imortais da ABL. A recente (2018) inadmissão nessa agremiação da escritora Conceição Evaristo, só vem a reforçar,
que apesar dessa instituição ter tido como primeiro presidente um imortal
negro, Machado de Assis, as mulheres negras, base da sociedade piramidal,
seguem invisibilisadas, apesar de sua crescente, rica e importante contribuição para a literatura nacional.
Fundada em Julho de 1897, a
academia brasileira de letras, em seus quase 122 anos de existência, carrega
desde o seu nascedouro uma estrutura que em contexto histórico acabam entrando
em conflito com o que teoricamente deveriam ser requisitos técnicos e básicos
quando da nomeação de um imortal para ocuparem uma das cadeiras da Academia
Brasileira de Letras.
A conjuntura que fundou um
modelo de literato a ocupar aquela casa sempre deixou claro a
preferência por seus representantes, seja através do regimento interno, de seu
estatuto ou das várias declarações do perfil que deveria ser o ideal para se
tornar um dos imortais pela academia, como consta no parágrafo 2º de seu
Estatuto.
Art. 2º - Só podem ser membros efetivos da Academia os brasileiros
que tenham, em qualquer dos gêneros de literatura, publicado obras de
reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livro de valor literário. As mesmas
condições, menos a de nacionalidade, exigem-se para os membros correspondentes.
A ABL (Academia Brasileira de Letras) é composta por 40 membros imortalizados e 20 correspondentes, oriundos de outros países.
Não é de hoje que figurar entre os ditos "imortais" da ABL (Academia Brasileira de Letras) é uma honraria destinada a uma elite que, mais do que apenas intelectual, tem em sua estrutura, assim como historicamente em nosso país, elementos que trazem em seu projeto embrionário um modelo pré-selecionado de sujeito intelectual brasileiro para ocuparem aquele espaço de saber e consequentemente de poder e dominação. A exigência, mais que apenas de capacidade cognitiva para uma produção literária de destaque, fica explícita que envolve em seu caráter um modelo institucional e estrutural de segregação.
Inspirada na Academia Francesa
de Letras, a ABL (Academia Brasileira de Letras) tem como sua constituição um
Estatuo em 10 artigos que, apesar de ter sofrido algumas mudanças com o passar
do tempo, tem um posicionamento histórico de aversão a presença feminina, se não por todos os representantes, mas por sua grande maioria.
Faz-se necessário, e não
apenas em caráter informativo, mas formativo de consciência, que as mudanças
que aconteceram ao longo de nossa história enquanto sociedade, não ocorrem
devido ao fato da estrutura de poder vigente, de repente, ter buscado repensar
um determinado modelo de submissão por estarem preocupados com o bem estar
social de determinados sujeitos, mas por uma rede de homens e mulheres que
estão na linha de frente da luta por transformações sociais a séculos, e a
muito custo, suor e sangue, consegue fazer com que os sujeitos sociais que
estão na base da pirâmide social causem fissuras nas estruturas dominantes.
O fato de ter em sua
história Machado de Assis, homem negro, na condição de primeiro Presidente da
ABL, não foi um fator relevante para que novas perspectivas fossem construídas como
sendo possíveis em um espaço que viesse a abranger uma diversidade
intelectual.
Eis um um trecho de seu discurso de posse proferido por Machado de
Assis:
[...
iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a
alma nova, naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da
federação política, a unidade literária. Tal obra exige, não só a compreensão
pública, mas ainda e principalmente a vossa constância...]
Discurso de Machado de
Assis, 20 de julho de 1897
A completar 122 anos de sua
inauguração no dia 20 de Julho de 2019, a ABL, assim como o modelo de sociedade
de fins do século 19, delimitava os espaços que poderiam ser
acessados por parte de alguns sujeitos que historicamente foram postos à margem
da sociedade, vítimas de uma estrutura social exploradora e opressora.
Dentro desse processo de silenciamento pelo qual as mulheres tem lutado ao longo dos anos, romper com o poder vigente sempre foi um grande desafio.
A presença de mulheres como partícipes do processo de produção da literatura no Brasil, sempre foi tratado como uma espécie de “corpo estranho” no mundo da produção intelectual, que sempre autorizou em sua maioria apenas a presença de homens brancos e de posição social privilegiada na sociedade brasileira.
Criada 09 anos após a
Abolição da Escravatura a agremiação carrega firme e forte as convicções de seus
integrantes quanto ao que é e deve permanecer considerado como sendo um padrão necessário
que acaba privilegiando um grupo em detrimento do outro.
Destaque entre as poucas
mulheres que conseguiram romper com alguns estereótipos e figurar entre os
intelectuais no fim do século XIX no Brasil, Júlia Lopes de Almeida fez parte
da elaboração do projeto que veio a ser a Academia Brasileira de Letras.
Casada com Felinto
de Almeida, Júlia Lopes de Almeida foi a primeira mulher a sentir na pele a
negativa por parte dos membros fundadores que compunham as primeiras cadeiras da
ABL.
Dona de uma vasta
obra literária e com algumas obras reconhecidas por parte da sociedade letrada
da época, Júlia Lopes foi peça tão importante para a fundação da ABL como
qualquer outro integrante daquele corpo de letrados. Entretanto, no momento da
escolha de seus primeiros membros, seu esposo, Felinto de Almeida, foi
escolhido em seu lugar, gerando reações diversas entre os membros.
Júlia Lopes de Almeida foi o primeiro e mais emblemático vazio institucional produzido pela barreira de gênero
Michele Asmar Fanini
Em uma das
colocações sobre esta decisão, Constâncio Alves, um dos imortais, indagou sobre a ideia da
possibilidade das mulheres terem para si, uma Academia Brasileira de Letras que
fossem específicas para seu gênero.
“As igrejas tem os seus conventos. Numa
estão os padres, noutra estão as freiras.”
Alberto Venancio
Filho, As mulheres na Academia, pag 26)
Durante esses mais de 100 anos da academia brasileira de letras, mantém-se a estrutura piramidal que segrega a sociedade nas mais diversas áreas de atuação.
A completar 122 anos no próximo mês de Julho do corrente ano, a falta de representatividade na ABL (Academia Brasileira de Letras) é gritante.
Essa instituição secular tem em seus registros apenas dos imortais negros (Machado de Assis e Proença Filho) e oito mulheres, brancas, sendo Raquel de Queiroz, conseguindo romper parte da estrutura após 80 anos da criação da casa, apenas em 1977, a muito custo, transpondo as barreiras do segregacionismo.
O próprio Felino de Almeida, esposo de Júlia, se mostrou bastante decepcionado com a posição de alguns colegas.
Anos mais tarde, em 1905, Filinto, em uma entrevista a João do Rio (alcunha de Paulo Barreto), declararia: "Não era eu quem devia estar na Academia, era ela".
Durante esses mais de 100 anos da academia brasileira de letras, mantém-se a estrutura piramidal que segrega a sociedade nas mais diversas áreas de atuação.
A completar 122 anos no próximo mês de Julho do corrente ano, a falta de representatividade na ABL (Academia Brasileira de Letras) é gritante.
Essa instituição secular tem em seus registros apenas dos imortais negros (Machado de Assis e Proença Filho) e oito mulheres, brancas, sendo Raquel de Queiroz, conseguindo romper parte da estrutura após 80 anos da criação da casa, apenas em 1977, a muito custo, transpondo as barreiras do segregacionismo.
A violência, nem sempre velada, segue
a passos largos e firmes quanto á presença de uma mulher negra entre os
panteões da ABL (Academia Brasileira de Letras).
(Detalhes sobre a AFL no site http://www.academia.org.br/academicos/nelida-pinon/120-anos-da-academia-brasileira-de-letras-uma-utopia-brasileira)
- A mulher negra e sua secular invisibilidade diante de um processo elitista e discriminatório na Academia Brasileira de Letras;
- Racismo Estrutural: A invisibilidade da mulher negra na Academia Brasileira de Letras;
- A mulher negra e sua secular invisibilidade diante de um processo elitista e discriminatório na Academia Brasileira de Letras;
- Racismo e Sexismo: Condicionantes de negação do acesso da população negra à Academia Brasileira de Letras
Dissertação de Mestrado - João Paulo - A Dança das cadeiras: Literatura e Política na Academia
Nélida Piñon, primeira mulher presidente da história da ABL
CITAÇÕES
Maria Firmina dos Reis escrevendo, em São Luiz do Maranhão, o primeiro romance afro-descendente da língua portuguesa – Úrsula – no mesmo ano de 1859 em que Luiz Gama publica suas Trovas burlescas
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