As Mulheres e sua luta pela imortalidade na Academia Brasileira de Letras

Júlia Lopes de Almeida


01 - Júlia Lopes de Almeida - A escritora Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) participou intensamente da formulação do projeto e das articulações que levaram à fundação da ABL em 20/06/1897. Mas, sendo mulher, seu nome foi excluído da lista dos fundadores da ABL, e seu lugar foi ocupado pelo de seu marido, um poeta de quem hoje pouco se sabe - Filinto de Almeida. Julia Lopes de Almeida foi a primeira escritora profissional brasileira. Em seus romances, de grande popularidade, a luta pela igualdade da mulher andava de mãos dadas com o abolicionismo e a defesa da república: A Falência, A Família Medeiros, A Intrusa, Eles e Elas, entre outros.

02 - Amélia Beviláqua - Quando da primeira candidatura feminina, em 1930, foi rejeitada, sob a justificativa de que o vocábulo “brasileiros” restringiria suas vagas apenas ao sexo masculino, ficou claro que a Academia relacionava valor literário a gênero.

03 - Dinah Silveira Queiroz - Já no início dos anos 50, o Regimento Interno atesta de fato a impossibilidade de elegibilidade feminina e altera o artigo para “os membros efetivos serão eleitos, dentre os brasileiros, do sexo masculino”, deixando mais claro ainda a prerrogativa machista. A segunda mulher a tentar participar do círculo de literatos imortais foi Dinah Silveira Queiroz, cuja candidatura também foi rejeitada. Ela resistiu, protestou, resultando, em 1977, na mudança daquele estatuto que levou à eleição de Rachel de Queiroz para a ABL.

PRIMEIRA MULHER ACEITA PELA ABL

01 - Raquel de Queiroz - Apenas em 1977 a instituição discutiu novamente a questão da mulher na Academia, para dar parecer favorável a Rachel de Queiroz. Apesar de Rachel não ter sido um expoente do movimento feminista, nem ter feito do seu discurso de posse um símbolo da conquista, a conquista por si só representou um grande passo em direção à igualdade dos gêneros. Rachel de Queiroz, ao publicar O quinze, aos dezenove anos, foi recebida com receio por Graciliano Ramos: “Seria realmente de uma mulher? Não acreditei. Lido o volume e visto o retrato no jornal, balancei a cabeça. Não há ninguém com esse nome. É pilhéria. Uma garota assim fazer romance! Deve ser pseudônimo de sujeito barbado”. Sejam garotas ou mulheres, a presença delas em todas as instâncias ligadas ao universo literário é recente e pequena quando comparada ao número de escritoras e leitoras brasileiras.

02 - Dinah Silveira de Queiroz - Em 1980, foi a vez de Dinah Silveira de Queiroz, que já tinha sido candidata anteriormente. No dia 10 de julho de 1980, Dinha Silveira de Queiroz foi eleita para a cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras. A escritora viveu seus últimos anos em Lisboa, onde seu marido chefiava a representação diplomática do Brasil. Nesse período escreveu seu último romance, “Guida, Caríssima Guida”, publicado no Brasil em 1981. Dinah Silveira de Queiroz faleceu no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, no dia 27 de novembro de 1982. 


03 - Lygia Fagundes Telles - A terceira mulher a ser membro foi a escritora Lygia Fagundes Telles, em 1985.  Nasceu e vive em São Paulo. Considerada pela crítica uma das mais importantes escritoras brasileiras, publicou ainda na adolescência o seu primeiro livro de contos,Porão e sobrado (1938). Estudou direito e educação física antes de se dedicar exclusivamente à literatura. Foi eleita para a Academia Brasileira de Letras em 1985 e em 2005 recebeu o Prêmio Camões, o mais importante da literatura de língua portuguesa.

04 - Nélida Piñon - Escolhida em 1989, autora de treze livros, Nélida Piñon foi também eleita presidenta da Academia Brasileira de Letras no ano do centenário da instituição. A escritora comentou: “Desde o início sentia-me discriminada. Precisava dar constantes provas de que,ao escolher a literatura como ofício de vida, estava decidida a alcançar a excelência estética. Assim convivi com a desconfiança, com as definições imputadas às mulheres, com um conjunto de circunstâncias que me marginalizavam”.


05 - Zélia Gattai - Zélia foi eleita para a cadeira nº 23 da academia, que pertenceu durante 40 anos ao seu marido, Jorge Amado, que morreu em agosto deste ano. Ela teve 32 votos, de 36 imortais que votaram. No dia 6 de agosto de 2001, Zélia ficou viúva do escritor Jorge Amado. No mesmo mês, se candidatou à cadeira de nº 23, que tinha sido ocupada pelo marido na Academia Brasileira de Letras durante 40 anos. Sua mais recente obra é "Códigos de Família", lançada em novembro deste ano, logo depois da morte de Amado. Em "Códigos", Zélia Gattai conta passagens de sua vida em que se criaram códigos especiais para remeter a uma situação ou a outra, de acordo com a convivência com Jorge Amado, com outros escritores, com amigos e com a família.

06 - Ana Maria Machado - Sexta ocupante da Cadeira nº 1, eleita em 24 de abril de 2003, na sucessão de Evandro Lins e Silva e recebida em 29 de agosto de 2003 pelo acadêmico Tarcísio Padilha. Presidiu a Academia Brasileira de Letras em 2012 e 2013.

07 - Cleonice Berardinelli - Eleita no dia 16 de dezembro de 2009, Cleonice sucede o escritor acadêmico Antonio Olinto, falecido no dia 17 de setembro do mesmo ano, e será a sexta ocupante da Cadeira nº 8. Especialista em Luís de Camões e Fernando Pessoa, dois dos mais importantes poetas da língua portuguesa, Cleonice Berardinelli será recepcionada pelo acadêmico Affonso Arinos de Mello Franco. 

08 - Rosiska Darcy - Sexta ocupante da Cadeira 10 da ABL, eleita em 11 de abril de 2013. A obra literária de Rosiska Darcy de Oliveira exprime uma trajetória de vida. Nascida no Rio de Janeiro, na casa onde vive até hoje na floresta da Tijuca, estudou no Instituto de Educação e se formou em Direito pela PUC. Nos anos 60, na revista Senhor, Jornal do Brasil, Visão e TV Globo e O Sol tornou-se a jornalista que mais tarde escreveria no Globo e no Estado de S. Paulo. Seu mais novo livro, lançado em 2017, Pássaro louco, é uma antologia, reunindo as melhores crônicas da autora, escritas ao longo dos últimos 20 anos.


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