Apagados pela história, negros foram importantes combatentes na guerra civil de 1932

Texto / Pedro Borges I Edição / Lucas Veloso - No dia 9 de Julho, São Paulo celebra um feriado em memória a chamada “Revolução Constitucionalista”, nome dado pela história oficial do estado à guerra civil iniciada neste dia no ano de 1932.

O conflito exigiu uma grande mobilização no estado paulista, que se frustrou com a falta de apoio do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, e enfrentou as forças de Getúlio Vargas com um pequeno suporte do Mato Grosso do Sul.
Grupo teve participação importante durante a guerra, mesmo que apagado pela história oficial (Foto: Reprodução)
Em busca de uma mobilização popular de massas, o governo do estado e as elites paulistas contaram com a mobilização de mulheres e homens negros para o conflito. De acordo com o pesquisador Petrônio Domingues, autor do artigo “Os ‘Pérolas Negras’: a participação do negro na Revolução Constitucionalista de 1932”, eram cerca de 10 mil combatentes, número que representava um quarto do contingente paulista.

Entre os soldados, houve a presença a chamada “Legião Negra”, também conhecida como os “Pérolas Negras”. Trata-se de um grupo de mulheres e homens negros, liderados pelo Chefe Civil e Capitão da Força Pública, Joaquim Guaraná, Chefe Militar, Gastão Goulart, e apoiados pelos Tenente Arlindo, do Corpo de Bombeiros, e Tenente Ivo.

O grupo, que acreditava ser o momento do negro participar da guerra como forma de defender a liberdade e a integração na sociedade paulista, reuniu três batalhões de infantaria e cerca de 2 mil soldados e obteve conquistas durante a guerra.

Segundo Petrônio Domingues, é preciso levar em consideração que parte significativa dos soldados negros participaram do conflito porque viam o exército paulista como uma possibilidade de trabalho. Naquele momento, com o fim do escravismo ainda recente, 13 de Maio de 1888, a comunidade vivia sob forte exclusão social.

A guerra de 1932 - Em 3 de Outubro de 1930, Getúlio Vargas implanta um golpe de Estado no país e põe fim à chamada República Velha. O então governante instala um estado ditatorial, acaba com as eleições, e rompe com os poderes políticos vigentes na época, que beneficiavam sobretudo as elites de São Paulo e Minas Gerais.

Getúlio Vargas chegou a nomear um tenente de outra região do país, João Alberto, como interventor do Estado, o que gerou revolta na elite paulista. O então tenente renuncia ao cargo em Junho de 1931, depois de pressão da elite revoltosa, que almejava naquele momento a descentralização do poder e a criação de uma nova constituição, fundamentada nos princípios liberais.

O clima continuou em tensão até a ação de quatro jovens, Miragaia, Marcondes, Dráusio e Camargo, que tentaram boicotar a sede de um jornal tenentista apoiador de Getúlio Vargas, e foram assassinadas. O fato precipitou o início da guerra para 9 de Julho de 1932.

O conflito persistiu até 1° de Outubro de 1932, quando as forças paulistas se renderam e colocaram fim ao conflito que se caracterizou como o maior já registrado em território brasileiro.
A Legião Negra

Assim que se inicia a guerra, o interventor de São Paulo, Pedro de Toledo, marca um diálogo com a Frente Negra Brasileira (FNB), principal organização antirracista da primeira metade do Século XX. O grupo chegou a ter 30 mil filiados e tinha o objetivo de promover a “elevação moral, intelectual, profissional; assistência, proteção e defesa social, jurídica e econômica da Gente Negra”, texto presente nos princípios da FNB.

Toledo pediu a participação da FNB na luta paulista, mas não obteve sucesso. Os ativistas alegaram um trauma da Guerra do Paraguai, quando a comunidade negra compôs a maior parte do exército brasileiro e não foi reconhecida pós conflito. Os líderes da Frente Negra Brasileira recordaram que a população estava frente nos dois exércitos, no paulista e no de Vargas, e que o conflito não faria sentido para o grupo. Havia também uma forte simpatia entre os negros por Getúlio Vargas, responsável por legislações trabalhistas que impactaram de maneira positiva na vida de operários. Optou-se então, em primeiro instante, por uma “neutralidade”.

A Legião Negra nasceu em 14 de Julho de 1932, cinco dias depois do início do conflito, de uma dissidência de Joaquim Guaraná e outros líderes, como Vicente Ferreira, da FNB. Eles acreditavam que o conflito era a possibilidade de inserção do negro na sociedade paulista e construção de uma pátria livre das opressões.

Fonte: yahoo

About Leituras Livres

This is a short description in the author block about the author. You edit it by entering text in the "Biographical Info" field in the user admin panel.

0 comments:

Postar um comentário

Se tem algo que posso lhe dizer após ter chegado até o fim deste post é que estou muito grato por sua visita.

Por que a capoeira é a "arte-mãe" da cultura brasileira e da identidade nacional

Por Henrique Mann Músico, historiógrafo e mestre em Artes Marciais A capoeira ajudou a moldar o samba e até o futebol do país, defende pesqu...