Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha: resistência para além da data

Gabi da Pele PretaFoto: Reprodução/Instagram
Para muito além de datas, o dia de hoje, dedicado à Mulher Negra Latina e Caribenha, é para enaltecer resistências e reavivar provocações. É também para questionar problemáticas inerentes a realidades que ainda perduram, como o racismo e o machismo. Estes foram alguns dos propósitos de um grupo de mulheres oriundas de países da América Latina, quando no início da década de 1990, em reunião na República Dominicana, adotou o 25 de julho como mais um momento de conscientização coletiva. 


"Acho que a primeira questão para a data é a não-sequência da visibilidade no resto do ano, de não ter os debates desdobrados, sabe? Embora dentro de coletivos feministas e de movimentos negros e sociais, a discussão seja constante. Algo que não acontece com quem não está inserida nestes meios e que por isso mesmo deve ir além de saber da existência de dias comemorativos como o de hoje", protesta a artista pernambucana Gabi da Pele Preta - 'mulher, preta, nordestina e artista', que é como ela se descreve em sua rede social.

Representatividades como a de Gabi da Pele Preta, estendidas a vieses que vão além dos palcos - a cantora caruaruense é ativista de causas que focam no protagonismo das mulheres negras - reforçam a necessidade de resistir, impulsionar outras mulheres e se colocar como referência de gerações que estão por vir. "Se hoje a gente resiste é porque em outras épocas existiam muitas Joanas (Batista Ramos) e Chiquinhas (Gonzaga), que resistiram muito mais do que nós fazemos hoje. Trabalho para ser referência para outras mulheres negras, com a arte que pode trabalhar autoestimas e que nos dá um lugar de fala", ressalta Gabi, citando a compositora e instrumentista carioca Francisca Edwiges Neves Gonzaga, autora de "Ó Abre Alas" (1899). Assim como Joana Batista Ramos deu letra ao "hino" pernambucano "Vassourinhas". 

No Brasil, nesta quinta (25), também se homenageia a líder quilombola Tereza de Benguela, símbolo de resistência em comunidades negras e indígenas do Século 13 - a celebração foi formalizada por meio da Lei 12.987, de 2014, sancionada pela então presidenta Dilma Rousseff para registrar a data como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. 

"Joana: se essa marcha fosse minha"

Dentro das comemorações do Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha no Recife, será lançado, hoje, o clipe com uma versão da letra criada por Joana, da Marcha nº 1 do Vassourinhas, que, pela primeira vez, ganhará vozes de mulheres. A ideia faz parte do documentário "Joana: se essa marcha fosse minha”, realizado por Camerino Neto, Maíra Brandão e Tactiana Braga. Nele, um coletivo de cantoras representativas da cultura pernambucana - Isaar, Gabi da Pele Preta, Paz Brandão e Sue, além de Cristina Ramos, bisneta de Joana - homenageia a autora da letra.

"Descobrimos que a música é uma parceria entre um homem e uma mulher, um 'alguém' invisível que fez a letra esquecida sob camadas de poeira. Quando fomos saber mais sobre ela (Joana), em visita ao Clube Vassourinhas, vimos a foto de uma mulher logo na entrada. Era ela, ali estampada, como prova da liderança que era", conta Gabi. O vídeo será exibido durante a 7ª Conferência Municipal da Mulher do Recife, às 19h, no auditório Tabocas (Centro de Convenções de Pernambuco).

Hoje também inicia a "PretAção - 1ªMostra de Mulheres Pretas", com espetáculos e performances produzidas e/ou encenadas por artistas negras. A ação, que pretende dar visibilidade positiva à mulher negra, com questionamentos acerca do que é ser artista e afirmando que negritude não é empecilho, segue até domingo, no Espaço O Poste Soluções Luminosas, na rua da Aurora. Já na Praça do Baobá, em Bonsucesso, Olinda, exposições e intervenções artísticas integram a programação da Roda de Capoeira Angola, às 18h.

Fonte: folhape.com.br
 Por: Germana Macambira

About Leituras Livres

This is a short description in the author block about the author. You edit it by entering text in the "Biographical Info" field in the user admin panel.

0 comments:

Postar um comentário

Se tem algo que posso lhe dizer após ter chegado até o fim deste post é que estou muito grato por sua visita.

Por que a capoeira é a "arte-mãe" da cultura brasileira e da identidade nacional

Por Henrique Mann Músico, historiógrafo e mestre em Artes Marciais A capoeira ajudou a moldar o samba e até o futebol do país, defende pesqu...