Os 250 anos de Cipriano Barata



 
Geralmente se entende por libertário todo partidário das liberdades públicas.

Segundo Antonio Houaiss, libertário significa: que se inspira em doutrinas preconizadoras de liberdade absoluta; que é partidário do anarquismo; que ou aquele que se guia por doutrinas fundamentadas na liberdade absoluta ou que é preconizada destas.

Essa era a postura do irrequieto baiano, Cipriano Barata de Almeida, um homem do seu tempo, sempre envolvido nos movimentos sociais da época, sintonizado com Iluminismo francês, desde quando acolhia os princípios da Revolução de 1789. Nesses princípios é que funda o seu liberalismo.

Cipriano José Barata de Almeida, nascido a 26 de setembro de 1763, no distrito de São Pedro, era filho do tenente do exército colonial português, na Bahia, Raimundo Nunes Barata e da baiana Luísa Xavier.

Como muitos dos moços do seu tempo, foi para Portugal, a fim de ingressar na Universidade de Coimbra (1786-1790). Cursou, inicialmente, Matemática que, depois, abandonou, para estudar Filosofia, diplomando-se bacharel. Em Lisboa também se tornou médico-cirúrgico prático, lavrador de cana na Vila de Abrantes.

Cipriano Barata viveu no tempo das grandes transformações políticas do final do século XVIII e inícios do XIX, quando no Brasil ainda se forjava a nação.

“O Processo que Dominou a História do Brasil nas últimas décadas do Século XVIII foi o de sua integração nas grandes transformações ocidentais, transformações que Jacques Godechot denominou “Revolução Atlântica”.

Deputado às Cortes Constitucionais em Lisboa, passou a representar a Bahia em 1821, aliando-se aos radicais mais exaltados.

Apesar de ter exercido a medicina, a verdadeira inclinação de Cipriano Barata era o jornalismo político. Como panfletista, que realmente era, dirigiu “A Sentinela da Liberdade, ora na guarita de Pernambuco, ora no Forte de São Pedro da Bahia ou na Praia Grande do Rio de Janeiro, locais em que esteve preso”.

Segundo depõe Affonso Ruy sobre Dr. Barata: “A linguagem é sempre a mesma: desabrida e enérgica; a finalidade sem discrepâncias, é o ataque aos governantes gananciosos de lucros fáceis, insultando, denunciando, vaticinando a destruição dos que empestavam o Brasil”.

Sua “aparição” política na Bahia ocorre nos inícios de 1798, na Conjuração Baiana, quando se revela adepto das ideias republicanas. Sistematicamente contra o governo constituído, devotava-se ao tratamento dos operários e escravos, os excluídos da sociedade de então. Comenta-se que no episódio de 1798 era um articulador dos movimentos de rua, subvertendo os cidadãos por meio de sua palavra " inflamada e convincente”.

Conduzia-os à subversão por meio de promessas de “repartição de terra”, concessão da liberdade e igualdade dos homens, com a extinção das classes sociais.

Como um “salvador da pátria” aliciou adeptos no seio do povo, às voltas com pesados tributos, elevação dos preços dos alimentos, conseguindo reunir, em torno de si, verdadeiros seguidores. Tendo sido detido em 1798, criou grande revolta contra os cárceres e os processos policiais.


É que lhe impuseram 14 meses de reclusão, que o deixaram agitado e enfurecido, a ponto de, na manhã de 22 de janeiro de 1799, ter rasgado o próprio peito com uma tesoura perante a população carcerária, gesto que, segundo o cirurgião Francisco Luiz Reina, não configurava tentativa de suicídio, mas a enorme tensão de que estava possuído. Cipriano Barata foi detido em 6 de setembro de 1798, sendo absolvido em 5 de outubro de 1799.

Era, por gênese, jornalista e agitador político, participante ativo das rebeliões geradas em sua terra ou fora dela.

Assim, além da Revolução dos Alfaiates, esteve presente na Revolução Pernambucana de1817, na Confederação do Equador, de 1824, nos “movimentos” pela independência do Brasil em 1821 e 1822, embora esses últimos por meio da tribuna popular e dos escritos.


Defendia ardorosamente a separação do Brasil de Portugal. Por essa razão, ao regressar da Corte não lhe foi possível viver na Bahia, dominada pelas forças de Madeira de Melo. Por esse motivo estabeleceu-se no Recife.

Cidadão comprometido com as reformas sociais, defensor da abolição da escravatura, contrastava do Frei Caneca, cujas preocupações eram de natureza política. Cipriano defendia o direito de cidadania dos pobres, antes mesmo que esses tivessem a oportunidade de participar da esfera pública. Combatia, com denodo, toda forma de despotismo, tendo sido ferrenho adversário do Imperador Pedro I. Essa exacerbação levou-o a ser perseguido e preso várias vezes.

Permaneceu detido em várias prisões até 1890, mas sempre exercendo atividade jornalística. Veiculava o nome dos seus jornais aos locais onde se encontrava.

Em 1834, aos 72 anos de idade, volta à Bahia, já praticamente despido da aureola de combatente, em face do longo afastamento de sua terra e do inevitável desgaste físico e moral. Retirou-se para Campinas de Brotas, diabético e endividado, ainda muito preocupado com três filhas em idade de casamento.


Acuado com a vigilância da polícia e da política de sua terra, resolve abandonar a Bahia e partir para o norte. Faleceu em Natal (RN), em 7/06/1838. Antes deixa uma carta, datada de 25 de maio de 1834, na qual declara enfático: “Ingrata Pátria: não possuirás os meus ossos”. 

Não foi não é, e nunca será o único conterrâneo injustiçado na Bahia


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