Casal de mulheres do Paraná adotou menina com HIV


Casal do Paraná adotou menina com HIVFoto: Diego Vara / Agencia RBS

Adoção de crianças com HIV ainda é exceção no país

Conforme o Conselho Nacional de Justiça, 85% dos candidatos a pais declararam não aceitar soropositivos.

Filha de uma moradora de rua com HIV, uma menina foi abandonada em um hospital de Belo Horizonte após o parto. Infectada pelo vírus, passou dois anos em um abrigo, isolada do convívio com outras crianças e proibida de utilizar pratos e talheres do local, pois seus cuidadores temiam que isso transmitisse o vírus.

Seu destino mais provável seria ficar no local até os 18 anos — poucos querem adotar uma criança com HIV —, mas um casal de São José dos Pinhais, no Paraná, decidiu mudar sua história. Ao aceitarem crianças soropositivas para a adoção, a jornalista Vivian Fiorio, 33 anos, e a diretora financeira Camila Ribeiro de Souza, 31 anos, deram um novo lar para a menina quando ela tinha dois anos. Hoje com quatro, ganhou até um irmão: um menino de um ano e meio, também exposto ao HIV pela mãe biológica.

No Brasil, a atitude do casal ainda é exceção. Um estudo do Conselho Nacional de Justiça divulgado no último ano revelou que 85% dos candidatos a pais no país não desejavam adotar portadores de HIV. A porcentagem preocupa especialistas em adoção, pois condena grande parte das crianças com o vírus a crescer nos abrigos.

De todas as crianças incluídas no Cadastro Nacional de Adoção, 3% possuíam HIV, conforme a pesquisa do CNJ. A taxa é alta em comparação com a ocorrência do vírus na população de 15 a 49 anos, faixa etária em que a doença é mais incidente no país, segundo o Ministério da Saúde. No estudo “A ONU e a resposta à aids no Brasil”, publicado em 2013 pela Unaids, há quatro anos cerca de 0,42% das pessoas entre 15 a 49 anos viviam com a doença no país.

— Os candidatos a pais tem de entender que o HIV é uma doença crônica, que tem tratamento. Não há razão para deixar de adotar uma criança porque ela tem o vírus. Creio que há muita falta de informação — explica a promotora da Infância e da Juventude de Porto Alegre Cinara Vianna Dutra Braga, responsável pela fiscalização do serviço de acolhimento.

Para Vivian, aliada à falta de informação, ainda existe um "preconceito imenso no país". Ela conta que a filha soropositiva tem uma vida normal, mas precisa tomar remédios todos os dias e receber acompanhamento médico.

— Todo o tratamento dela é feito pelo SUS e, ao contrário de outros serviços, é muito bom. Até vacina especial ela recebe — explica a mãe, natural de Caxias do Sul.

Adoção pode refletir no controle da doença, diz especialista

Na Capital, o Instituto Amigos de Lucas trabalha em prol da conscientização dos candidatos a pais em relação ao HIV. Além de discutir o tema nos encontros dos casais incluídos no Cadastro Nacional de Adoção, a organização também promove palestras sobre o vírus para pessoas interessadas em apadrinhar crianças que moram nos abrigos, com objetivo de conquistar padrinhos aos portadores de HIV.

— O problema é muito mais a desinformação e o preconceito do que a doença em si — explica a presidente do instituto, Maria Rosi Marx Prigol. 

Ela relata que a maioria dos casais que frequenta o grupo diz ter medo que os filhos morram cedo, e por isso não aceitam adotar soropositivos. A assessora técnica de DST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde, Simone Ávila, explica que isso é um mito atualmente.

— A ideia de que ter Aids é uma sentença de morte já não existe mais. Atualmente, a medicação faz com que os portadores tenham uma boa qualidade de vida e a taxa de mortalidade diminuiu — afirma Simone.

Segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde publicado em dezembro de 2013, nos últimos 10 anos houve uma redução de 14% na taxa de mortalidade envolvendo o HIV no Brasil.

Outro argumento usado por candidatos que não aceitam adotar soropositivos, segundo Rosi, é o medo de serem infectados. Para Simone, isso é outro mito. A assessora técnica explica que, com o tratamento da doença, isso é evitável. 

Além disso, a adoção pode contribuir para o controle da doença. Conforme Tatiana Heidi Oliveira, especialista em saúde da Coordenação de DST/Aids do governo do Estado, uma família tem mais possibilidades de garantir melhores cuidados a uma criança com HIV do que um abrigo, que precisa atender vários acolhidos. Com pais adotivos, as crianças tendem a ficar com a carga viral (circulação do vírus no organismo) mais baixa, segundo a especialista.

Fonte: Zero Hora Notícias
por Fernanda da Costa

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