Presas por dirigir, mulheres serão julgadas em tribunal para terroristas na Arábia Saudita

Ativistas pelos direitos das mulheres estão presas há quase um mês; lei antiterrorista tem sido utilizada para julgar dissidentes e ativistas pacíficos.

As sauditas Loujain al-Hathloul, 25 anos, and Maysa al-Amoudi, 33, detidas no começo de dezembro por dirigir, serão julgadas por um tribunal especial para casos de terrorismo na Arábia Saudita.


Segundo ativistas, é a primeira vez que mulheres presas por dirigir são transferidas para o tribunal especial com sede em Riad, capital do país árabe, o único no mundo a proibir que mulheres dirijam automóveis.

Pessoas próximas al-Hathloul e al-Amoudi afirmaram que elas estão sendo julgadas não por dirigir, mas por expressar suas opiniões online. As duas ativistas têm mais de 350 mil seguidores no Twitter e são as principais vozes da campanha pelo direito das mulheres de dirigir no país.

Em entrevista à Agência Efe, o ativista Yahya Asiri explicou que as autoridades judiciais estão aplicando a nova lei antiterrorista, que entrou em vigor em fevereiro de 2014, segundo a qual devem ser julgadas pessoas que prejudiquem a reputação do país.

A norma define o delito de terrorismo como "qualquer ato criminoso que de forma direta ou indireta altere a ordem pública, atente contra a segurança da comunidade e a estabilidade do Estado, ou ponha em perigo a união nacional". Segundo o jornal britânico The Guardian, o tribunal especial foi estabelecido para julgar casos de terrorismo tem sido utilizado também para julgar dissidentes e ativistas pacíficos, como as duas mulheres.

Asiri destacou que na audiência realizada ontem (25/12), a segunda do julgamento, a promotoria e os advogados das duas mulheres rejeitaram a mudança, e previu que a corte pode pronunciar-se nos próximos dias sobre se aceita ou não levar o processo.

As sauditas, que têm carteiras de motorista dos Emirados Arábes Unidos, foram detidas na fronteira entre o país e a Arábia Saudita ao tentar entrar dirigindo em seu país de origem.

Elas vinham pedindo na internet o fim da proibição de dirigir para as sauditas, existente de forma oficial no país desde 1990, e tinham convocado outras pessoas a desafiar a norma.

Nos últimos anos foram organizadas campanhas nas quais mulheres sauditas saíram para dirigir carros no país e postaram seus vídeos nas redes sociais para denunciar a falta de liberdade. Em 2011, uma saudita foi condenada a 10 chibatadas por dirigir, mas sua sentença foi cancelada pelo rei Abdullah. 

A Arábia Saudita é regida por uma interpretação da lei islâmica que impõe a segregação de sexos em espaços públicos e restrições às mulheres para, além de dirigir, viajar para fora do país sem um homem da família. Não há nenhuma lei que explicite a proibição para mulheres dirigirem no país, mas o reino se recusa a emitir carteiras de motorista para mulheres, temendo que a ampliação dos direitos civis leve a "problemas sociais".

Fonte: Opera Mundi
*Com informações de Agência Efe e The Guardian

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