Ofertas de Aninha (Aos moços)
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Eu sou aquela mulher
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.
Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.
Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futura dos erros e violências do presente.
Aprendi que mais vale lutar
Do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.
- Cora Coralina, no livro "Vintém de cobre: meias confissões de Aninha". 6ª ed., São Paulo: Global Editora, 1997, p.145.
Cora Coralina : Acervo ©Museu Casa de Cora Coralina (Global Editora) |
Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (Cidade de Goiás GO, 20 de agosto de 1889 - Goiânia GO, 10 de abril de 1985). Poeta e contista. Passa a infância e adolescência na Cidade de Góias. Pertencente a uma família de origens aristocráticas, é educada em casa por uma mestre-escola, cursando apenas os quatro primeiros anos primários. Apesar da pouca escolaridade, aos 14 anos começa a publicar contos e poemas em periódicos da cidade, valendo-se do pseudônimo Cora Coralina, que adota devido à repressão familiar. Na mesma época frequenta o "Clube Literário Goiano".
Durante uma das reuniões conhece o advogado Cantídio Tolentido de Figueiredo Bretas, com quem, em 1911, foge para o interior paulista (os dois só se casariam oficialmente em 1926). Durante os anos que vive com o companheiro, continua escrevendo, porém não publica sua produção. No entanto, contribui com artigos para jornais das regiões de Avaré e Jaboticabal. Com a morte do marido, em 1934, passa a morar na capital paulista e, para sustentar a si e aos filhos, torna-se vendedora de livros na editora de José Olympio (1902 - 1990). Na década de 40 volta para a cidade de origem, tornando-se doceira, profissão que a sustentou até o fim da vida. Em 1965, aos 76 anos, decide publicar pela primeira vez seus escritos (Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais) pela mesma editora José Olympio. Em 1983 recebe o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Goiás (UFG), e no mesmo ano torna-se a primeira mulher a vencer o prêmio Juca Pato com o livro Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha.
Durante uma das reuniões conhece o advogado Cantídio Tolentido de Figueiredo Bretas, com quem, em 1911, foge para o interior paulista (os dois só se casariam oficialmente em 1926). Durante os anos que vive com o companheiro, continua escrevendo, porém não publica sua produção. No entanto, contribui com artigos para jornais das regiões de Avaré e Jaboticabal. Com a morte do marido, em 1934, passa a morar na capital paulista e, para sustentar a si e aos filhos, torna-se vendedora de livros na editora de José Olympio (1902 - 1990). Na década de 40 volta para a cidade de origem, tornando-se doceira, profissão que a sustentou até o fim da vida. Em 1965, aos 76 anos, decide publicar pela primeira vez seus escritos (Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais) pela mesma editora José Olympio. Em 1983 recebe o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Goiás (UFG), e no mesmo ano torna-se a primeira mulher a vencer o prêmio Juca Pato com o livro Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha.
Comentário Crítico - O cerne da prosa e da poesia de Cora Coralina reside na memória autobiográfica. Em seus textos, a escritora aborda cenas da infância em sua cidade natal, sobretudo aquelas que se passam no espaço doméstico - como no poema "Antiguidades": "Quando eu era menina/ bem pequena,/ em nossa casa,/se fazia um bolo,/ assado na panela/ com um texto de borralho em cima". O título do poema, aliás, já antecipa que sua matéria será o passado, assim como o título de outros poemas da autora ("Velho sobrado";"O passado...";"Velho"). Pode-se afirmar então que, no caso de Cora Coralina, obra e biografia são elementos indissociáveis, e a figura pública da escritora amalgama-se à da senhora doceira que rememora o passado de menina. Mesmo em suas obras infanto-juvenis, como o Tesouro da Casa Velha, em que são narradas histórias de tom imemorial, envolvendo fantasmas e tesouros escondidos, os contornos biográficos estão presentes: os fantasmas são parentes de Cora, e os tesouros estão escondidos na casa de sua família.
Cora Coralina - foto: Acervo ©Museu Casa de Cora Coralina (Global Editora)
Nesse sentido, a cidade de Goiás - e seu glorioso passado colonial - possui lugar relevante em sua obra, uma vez que Cora associa de forma tenaz a cidade natal e biografia. Por vezes, ao meditar em versos sobre o sobrado familiar (ligado intrinsecamente à história da cidade), o eu lírico parece configurar certa nostalgia das formas de vida do Brasil colônia ("Homens sem pressa,/talvez cansados,/descem com leva/madeirões pesados,/lavrados por escravos/(...)Passantes cautelosos/desviam-se com prudência./Que importa a eles o sobrado?").
Embora não tenha participado ativamente do movimento modernista, a linguagem simples e coloquial e o registro do dado local de Cora Coralina possuem afinidades com a estética surgida com o movimento, evidenciando assim a sincronismo da autora com seu tempo.__
"A estrada da vida é uma reta marcada de encruzilhadas.
Caminhos certos e errados, encontros e desencontros do começo ao fim.
Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina."
- Cora Coralina, em trecho do poema "Exaltação a Aninha (o professor)", do livro "Vintém de cobre: meias confissões de Aninha". 6ª ed., São Paulo: Global Editora, 1997, p.151.
Fonte: Templo Cultural Delfos
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