O SILÊNCIO SOBRE O MEDO


Atormentada por querelas religiosas, tudo á noite era suspeito. As cidades conseguiam afastar completamente o medo para fora de seus muros, ao mesmo tempo enfraquecia este medo tornando possível viver com ele. Mesmo com o complicado mecanismo de proteção, os indivíduos sejam individuais ou coletivamente mantiveram um diálogo permanente com o medo.

O homem é medroso por natureza. O homem usa amuletos no mesmo sentido que “todos os homens têm medo e aquele que não tiver medo, não é normal” (Jean Delumeau, 1989, p. 147). A insegurança é símbolo da vida, sendo ela símbolo de morte. O homem sabe muito cedo que morrerá um medo único, idêntico a si mesmo, algo imutável. 

O medo é ambíguo, é uma defesa natural que garantimos contra o perigo, um reflexo que permite ao organismo fugir da morte; “sem o medo nenhuma espécie teria sobrevivido...” (Jean Delumeau 1989, p. 147), mas se ultrapassado, pode tornar algo patológico e bloqueador; identificado como covardia, a qual não se poderia proteger com antecedência. 

O medo tornou-se causa da evolução do individuo, no entanto a regressão para o medo é o perigo que espreita constantemente o sentimento religioso; podendo separar nós, distanciando do mundo exterior.

Portanto, podemos declarar que o medo é o pior inimigo enfrentado pelo homem; uma atitude que percorre além dos casos individuais, um exemplo claro na batalha homem versos medo. Mas os historiadores não precisam procurar muito, para identificar a presença do medo, nos comportamentos dos grupos; seja dos povos antigos ou das sociedades contemporâneas. 

É muito difícil analisar o medo e aumenta a dificuldade, quando se trata de passar do estudo do medo individual para o medo coletivo. Para facilitar a análise podemos tratar de um estudo da versão mística que possibilita qualquer um de nós a morrer de medo; característica do pânico se manifesta, uma energia que se difunde por todo o organismo do indivíduo. 

Tratando-se o primeiro sentido de “coletivo” é provável que as reações de uma multidão tomada de pânico ou que libera subitamente sua agressividade resultando em grande parte da adição de emoções e choques. O medo torna se operatório no nível coletivo, a partir da distinção que a psiquiatria agora estabeleceu, no plano individual, entre medo e angústia, tratando de dois pólos, o medo tem como objetivo determinar onde pode fazer frente. A angústia não tem e é vivia como uma espera, dolorosa diante de um perigo tanto mais terrível, sendo um sentimento global de insegurança.

O acúmulo das agressões que atingiram as populações do Ocidente de 1345 criou do alto e baixo corpo social, um abalo psíquico profundo, onde são testemunhas de todas as linguagens da época, palavras, imagens e figuras, as quais constituem uma sociedade do medo. Jean Delumeau (1989) conseguiu reagrupar elementos da sua investigação, no ponto de andamento em que se encontra hoje, em dois conjuntos: “os medos da maioria, a cultura dirigente e o medo, os quais definem o subtítulo: Uma cidade sitiada”. Delumeau (1989) retrata o medo através de experiências e do momento que o medo toma conta de si.

O medo camuflado está presente em toda parte. Mas há uma parte onde o historiador pode encontrar, sem nenhuma falsa aparência, este espaço é o mar; vários povos o temiam; pois aquela; imensidão líquida poderia trazer a peste negra, invasões e outros perigos. A metáfora da fúria, todos os símbolos, animais que se relaciona com a fúria e raiva faziam parte do imaginário a respeito do mar. Desde Homero e Virgilio até Franciade e os Lusíadas, não há nenhuma epopéia, se tempestade, figura com destaque em romance medieval. As metáforas do mar tranqüilo e bom serão, portanto números menores, do que o mar bravio; sendo a tempestade não apenas temas literários e imagem das violências humanas; é também em primeiro lugar fato de experiência, relatada por todas as crônicas a navegação para a terra santa.

O mito também ganha espaço na representação do mar; aparecendo relatos de monstros que se alimentavam de humanos, como Polifen, Cila, Circe, as sereias, Leviatã e Lorelei. Outra visão mitológica esta relacionada aos textos, apocalípticos clássicos que na origem da sua demência suspeitava de feiticeiras e demônios, pois o mar é freqüentemente representado como o domínio privilegiado de Satã e das potencias infernais. No fim do mar acreditava-se que era também o fim do mundo e associava a ideia de que também encontraria no final dele a passagem para o inferno; um abismo profundo, local do medo, da morte, da demência, onde vive Satã, os demônios e os monstros. Assim um dia o mar desaparecera quando toda a criação for regenerada.

Portanto até as vitórias das técnicas modernas, o mar era associado na sensibilidade coletiva com as piores imagens de aflição. Mas estas imagens inventadas na Europa, na Idade Média e na Renascença, vão além dos mares, permitindo que a Europa sai-se de si mesma.

Na mentalidade coletiva, a vida e a morte não apareciam separadas em um corte nítido; os mortos permanecem entre nós como seres meio material e meio espiritual uns são bons para fazer a vontade de Deus, outros ao contrário, trás a terra “pestes, langores, tempestades e trovão”, fazendo sons no ar para provocar susto. No contexto, mostra podemos perceber a concepção a Igreja e uma separação radical da alma e do corpo no momento da morte. No século XVII muitos juristas, dissertaram sobre os cadáveres, os quais Platão, Lucrecio e Marcilio, são invocados para estas questões.

Com o processo da duvida metódica, levaram pouco a pouco os homens da Igreja, a desconfiarem mais da aparição dos mortos. No final do século VIII e no começo do século XVIII, os fantasmas, que provocavam epidemias do medo eram os vampiros; o temor dos vampiros continuava no século XIX na Romênia o país do Dracúla.

Voltando no contexto, não podemos esquecer da peste que envolvia o comportamento coletivo, provocando o medo e pânico; episodio que ataca a Europa, sempre desaparecendo e reaparecendo criando um estado e “nervosismo e medo na população”; a peste era vista como um pesadelo que vinha junto com a fome e a guerra uma “praga” que ataca o mundo, que envolve a violência, sendo vista por diversos povos como impetuosa, com um ideal de punição divina.

Percebe-se que as epidemias provocavam interrupção na morte, ocorrendo abolição dos ritos coletivos de alegria e de tristeza, pois o número de mortos e o pânico de morrer limitavam a ritualização dos indivíduos; essas rupturas brutais com o uso cotidiano são acompanhadas de impossibilidade radical dos planejamentos de mecanismo de defesa contra a doravante peste.

A violência é uma inquietação coletiva, onde cresce um “medo global”, gerador de pânico e repulsa. A fome também é um medo comum na Idade Média o qual provoca apreensão nas estações, ao escoamento dos meses, até mesmo dos dias; em tempo e crise, provocava pânico, medo e desembocarando a loucura, acusações etc.

Os rumores são provocadores do medo coletivo, pois se espalhava no Ocidente a revolta, provocada pela morte, pela ameaça da fome e de guerras; os grandes cismas, como as cruzadas contra os hussitas, que levou a decadência a moral do papado, antes do surgimento operado na reforma católica. Nestes momentos de crise, o melhor a fazer é manter-se apegando com os mandamentos de Deus e praticando o bem para ganhar a salvação eterna.

Podemos perceber que o homem vive constantemente cercado pelo medo materialista, que vai além da vida, ou seja, o pós-morte é a preocupação dos indivíduos. Nesta jornada o homem, parte em busca de explicações, sendo conduzido pelo medo e consequentemente a sua mentalidade o atrai para o pior inimigo, a morte.

Por Dhiogo Caetano

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