Os quatro humores
A principal tentativa de explicar a fisiologia do sangue e sua relação com as doenças, a teoria dos quatro humores, dominou a ciência médica ocidental por mais de um milênio, atravessou a Idade Média e chegou à era moderna.
Consagrada por Hipócrates, o pai da medicina, e encampada mais tarde pelo filósofo Galeno de Pérgamo, a teoria se sustentava numa suposta relação direta entre o universo e o homem.
"O equilíbrio e a harmonia do Cosmo se refletiam na saúde do microcosmo, o corpo", diz Pedro Carlos Lemos, professor de cirurgia da faculdade de medicina da USP.
Em analogia aos quatro elementos formadores de tudo o que existe (terra, água, fogo e ar), quatro humores (no sentido de líquidos) em circulação pelo corpo regulariam o funcionamento do organismo e o temperamento humano: o sangue, a fleuma (ou linfa), a bile amarela e a bile negra.
Relacionados, respectivamente, a coração, pulmões, fígado e baço, cada humor exibia uma qualidade - umidade, secura, calor e frio -, que definia os tipos de personalidade.
Segundo a teoria grega, indivíduos do tipo sanguíneo seriam extrovertidos e cheios de energia, e os fleumáticos, tímidos e reservados. Os coléricos estariam sujeitos a ímpetos de raiva e irritação. Os melancólicos, por fim, se mostrariam predispostos à tristeza e ao retraimento.
Segundo a teoria grega, indivíduos do tipo sanguíneo seriam extrovertidos e cheios de energia, e os fleumáticos, tímidos e reservados. Os coléricos estariam sujeitos a ímpetos de raiva e irritação. Os melancólicos, por fim, se mostrariam predispostos à tristeza e ao retraimento.
"A saúde seria o resultado do equilíbrio dos humores, que, em excesso ou falta, provocariam as doenças físicas e mentais", afirma Lemos. Na falta de resposta às dúvidas, sobravam bolas na trave. "Chegou-se a acreditar que o sangue fosse o combustível do corpo. Produzido no fígado, seguiria para o coração e, dali, para os outros órgãos."
No século 17, o médico britânico William Harvey decifrou o funcionamento do sistema circulatório e o papel do coração no bombeamento do sangue. Seu estudo De Motu Cordis, de 1628, descreve detalhadamente a circulação, mas deixa lacunas, como o enigma da função dos pulmões. Ainda durante muito tempo permaneceria a crença de que o papel desse órgão seria "resfriar" o sangue.
No século 17, o médico britânico William Harvey decifrou o funcionamento do sistema circulatório e o papel do coração no bombeamento do sangue. Seu estudo De Motu Cordis, de 1628, descreve detalhadamente a circulação, mas deixa lacunas, como o enigma da função dos pulmões. Ainda durante muito tempo permaneceria a crença de que o papel desse órgão seria "resfriar" o sangue.
Entra e sai
Era inevitável pensar que, se a saída do sangue podia curar, por que não sua entrada no corpo? De volta ao contexto místico, esta era uma noção muito antiga: em algumas sociedades, ingerir o sangue de inimigos derrotados era uma forma de aproveitar suas virtudes.
Na obra História Natural, escrita em 77, o naturalista Plínio, o Velho, descreve cenas impressionantes de gente que invadia as arenas romanas para beber o sangue dos gladiadores moribundos e, assim, absorver sua força. A prática, dizia-se, era especialmente eficaz contra a epilepsia.
Apesar de aqui e ali despontarem relatos de cientistas que experimentavam injetar substâncias na corrente sanguínea (como vinho em cães de caça), as primeiras transfusões bem-sucedidas registradas oficialmente aconteceram apenas em 1665: um médico da Universidade de Oxford, Richard Lower, inovou usando tubos para transferir sangue entre animais.
Mais dois anos se passaram e o francês Jean-Baptiste Denis anunciou ter conseguido introduzir sangue de ovelha num ser humano. Entusiasmado, Denis quis dar um passo além e injetou sangue de bezerro num rapaz violento, na tentativa de amansar seu temperamento.
O saldo do experimento bizarro, como não poderia deixar de ser, foi a morte do infeliz. Levado a julgamento, o médico foi inocentado, mas uma sequência de malfadadas (e quase sempre trágicas) transfusões posteriores levou a sociedade médica parisiense e, mais tarde, os parlamentos francês e inglês a declararem a prática ilegal.
Desistir, jamais. Em 1818, o obstetra inglês James Blundell realizou a primeira transfusão de sucesso feita com sangue humano. Foi numa paciente com hemorragia pós-parto: ele extraiu uma porção do sangue do braço do marido dela e aplicou na mulher com uma seringa. Simples assim.
Entre 1825 e 1830, Blundell foi feliz em cinco entre dez transfusões - 50% de acerto pode ser considerado uma boa marca para a época - e ainda projetou diversos instrumentos para serem usados no procedimento. Dez anos depois, em 1840, assessorou em Londres o médico Samuel Armstrong Lane durante a primeira transfusão total de sangue, feita num doente hemofílico.
Apesar de aqui e ali despontarem relatos de cientistas que experimentavam injetar substâncias na corrente sanguínea (como vinho em cães de caça), as primeiras transfusões bem-sucedidas registradas oficialmente aconteceram apenas em 1665: um médico da Universidade de Oxford, Richard Lower, inovou usando tubos para transferir sangue entre animais.
Mais dois anos se passaram e o francês Jean-Baptiste Denis anunciou ter conseguido introduzir sangue de ovelha num ser humano. Entusiasmado, Denis quis dar um passo além e injetou sangue de bezerro num rapaz violento, na tentativa de amansar seu temperamento.
O saldo do experimento bizarro, como não poderia deixar de ser, foi a morte do infeliz. Levado a julgamento, o médico foi inocentado, mas uma sequência de malfadadas (e quase sempre trágicas) transfusões posteriores levou a sociedade médica parisiense e, mais tarde, os parlamentos francês e inglês a declararem a prática ilegal.
Desistir, jamais. Em 1818, o obstetra inglês James Blundell realizou a primeira transfusão de sucesso feita com sangue humano. Foi numa paciente com hemorragia pós-parto: ele extraiu uma porção do sangue do braço do marido dela e aplicou na mulher com uma seringa. Simples assim.
Entre 1825 e 1830, Blundell foi feliz em cinco entre dez transfusões - 50% de acerto pode ser considerado uma boa marca para a época - e ainda projetou diversos instrumentos para serem usados no procedimento. Dez anos depois, em 1840, assessorou em Londres o médico Samuel Armstrong Lane durante a primeira transfusão total de sangue, feita num doente hemofílico.
http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/conheca-trajetoria-sangue-historia-681834.shtml
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